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Comissão da Verdade - 16 de outubro de 2015

Busca por Jana Moroni já dura 41 anos

O Grupo Tortura Nunca Mais/RJ reproduz matéria publicada no dia 11 de setembro de 2015 na Tribuna de Petrópolis.

Jana Moroni

Parentes acreditam que existem muito mais coisas a se revelar do que o que foi dito no relatório final da Comissão Nacional da Verdade.

Aline Rickly – A busca por informações sobre o período de repressões do regime militar (1964-1985) continua. Parentes de desaparecidos políticos pedem que o governo brasileiro abra o arquivo da ditadura, porque acreditam que existem muito mais coisas a se revelar do que o que foi dito no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que pesquisou durante dois anos os fatos acontecidos naquele período. Para a presidente do grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Victória Grabois, filha de Maurício Grabois – chefe da Guerrilha do Araguaia, que ocorreu entre os fins da década de 1960 e início de 1970, na região da Amazônia – a sociedade brasileira tem o direito de saber o que aconteceu com parentes, amigos e conhecidos que estão desaparecidos há décadas. Além disso, ela considera que estas informações são importantes para que se possa inibir que o país volte a enfrentar momentos de repressão, torturas, desaparecimentos e sequestros. Foi a luta por um país democrático que motivou a cearense Jana Moroni Barroso a ir para a região do Araguaia, em 1971. Nascida em Fortaleza, a militante se mudou para Petrópolis aos três anos.

Estudante de biologia, cursava a faculdade na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde começou a militância no Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Considerada como desaparecida política, até hoje a família busca informações sobre sua morte. Um dos seus irmãos, o ator Breno Moroni – que já participou de diversos programas da TV Brasileira e inclusive do filme Araguaia – a Conspiração do Silêncio – mora em Petrópolis. Ele contou um pouco da história da família Moroni e o sofrimento com o desaparecimento da irmã. Eles moravam na rua Paulo Barbosa. Eram, ao todo, quatro irmãos. A Jana era a mais velha e chegou a estudar no Cenip, antes de ir para a Universidade. Na época, Breno disse que os irmãos não sabiam muito o que estava acontecendo, mas tinham certeza de que era algo sério. “A Jana fazia faculdade de biologia no Rio e, em um certo momento, teve que fugir. Eu a levei na rodoviária quando ela saiu da cidade em 1971”, lembrou. Nos primeiros meses, ele disse que ela se comunicava por cartas com a família, por meio de pseudônimos, códigos. As cartas eram entregues na hora e local determinado. “Se passassem 10 minutos e a carta não chegasse, tínhamos que ir embora”, comentou. As correspondências eram entregues sempre no bairro Flamengo, no Rio de Janeiro. As pessoas que as entregavam não eram conhecidas da família Moroni. A última carta enviada por ela foi em fevereiro de 1972.

 

Tortura Nunca Mais e a busca incansável por informações sobre os desaparecidos

 

O grupo Tortura Nunca Mais busca informações sobre o desaparecimento dos guerrilheiros do Araguaia.Segundo Victoria, o pai Maurício Grabois, o irmão André Grabois, que na época, tinha 18 anos e o marido dela, na época, Gilberto Maria, desapareceram em 1973. Até hoje, ela convive com a dor dos desaparecimentos e a busca por notícias. Neste período, Victoria mudou para São Paulo, de forma clandestina com a mãe e o filho. Só voltaram para o Rio, depois da Anistia. E foi neste momento que conheceu a Lorena, irmã da Jana e também os pais da guerrilheira. Sobre o sofrimento para a família, a presidente do Tortura Nunca Mais, disse que é indescritível. “A morte faz parte da vida, a gente sabe disso. Naturalmente, esperamos que nossos pais morram antes, quando o filho vai primeiro, é um acidente de percursos. E aí tem o velório, o enterro, todo um ritual. Mas quando uma pessoa querida desaparece não existe ritual. O luto não é elaborado e a dor é muito grande”, comentou. Além das famílias Moroni e Grabois, mais 65 pessoas seguem desaparecidas.

Victoria chegou a ir para o Mato Grosso, ajudar a fazer o estudo geográfico do local. Ela lembra que, na época, chegara à conclusão que aquele não era um bom lugar para a guerrilha. Além disso, identificaram, que a população era muito pobre seria preciso fazer o trabalho social. Ao todo, a guerrilha era composta por três destacamentos:A, B e C. Quando o exército entrou no local, atacou o A e o C. O B não sabiam que existia e foi o último a cair. Por volta de 1991 as famílias encontraram três corpos no cemitério de Xambioá no Tocantins.

Fonte: http://www.tribunadepetropolis.net/Tribuna/index.php/bloco-3-sem-foto/21136-busca-por-jana-moroni-ja-dura-41-anos.html

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