MÃES DE MAIO
MÃES DE MAIO
Madres de Brasil e de Argentina se reúnen para
debater as ditaduras do pasado e do presente
Natalia Pitts
Seminário na OAB
No último dia 15 de junho, organizações que lutam em defesa dos direitos humanos, entre elas o Grupo Tortura Nunca Mais/ RJ, realizaram um encontro com uma das mães da praça de Maio, Nora Cortiñas, da linha Fundadora, Deise Silva, da Rede contra a Violência e Victória Grabois, do GTNM/RJ. Foi uma das atividades programadas durante a Cúpula dos Povos, que aconteceu no Rio de Janeiro, entre os dias 15 e 23 de junho para debater sobre as violações de direitos humanos que ocorreram durante os regimes ditatoriais da Argentina e do Brasil, assim como a violência que ocorre hoje.
Victória Grabois, cujo irmão (André Grabois), pai (Maurício Grabois) e primeiro marido (Gilberto Olímpio.) foram desaparecidos durante a ditadura civil-militar brasileira, iniciou os trabalhos destacando entre outros temas, a criação da Comissão Nacional da Verdade no Brasil. Segundo Victória:
“A Comissão da Verdade começou muito tarde, em outros países da América Latina não demorou tanto tempo para constituir-se uma Comissão para investigar os delitos das ditaduras. Ademais, a Comissão abrange um período muito grande de investigações (1946 a 1988). Apesar de já estar constituída há mais de um mês, ainda não tem uma metodologia de trabalho e os seus atos serão sigilosos”.
Deise falou sobre as graves violações de direitos humanos cometidas por policiais militares nas comunidades do Rio de Janeiro. Destacou o assassinato de seu filho, ocorrido em janeiro de 2008, no Departamento Geral de Ações Socioeducativas – Degase. Ela informou que seu filho, Andreu, estava sob a custódia do Estado e foi agredido por agentes “socioeducadores”, sofrendo traumatismo craniano, que lhe causou a morte. Deise relatou:
“Lutei como pude pela exumação do corpo de meu filho que não tinha a intenção de fugir e um dos fatos que se constatou foi a marca de uma barra de ferro ou de algo semelhante em sua cabeça. Ao tomar conhecimento do fato, me senti traída pela justiça, e com muita decepção vejo o corporativismo da polícia e da justiça”.
Nora Cortiñas relatou um pouco sobre o drama vivido pelas Mães da Praça de Maio, que até hoje lutam por memória, verdade e justiça. A cofundadora da Associação das Mães da Praça de Maio relatou que sofre até hoje pelo desaparecimento de seu filho Gustavo, ocorrido há 35 anos. Ele foi sequestrado em uma estação de trem enquanto ia para o trabalho. Gustavo era militante político e realizava trabalhos em bairros pobres de Buenos Aires. Para ela:
“Todos os dias sinto nostalgia, pois não é possível esquecer um filho. Dia após dia, me recordo cada vez mais dele, por isso busco a verdade e a justiça sobre o que se passou. Eu e todas as mães queremos saber sobre os desaparecimentos de nossos filhos: quem, como, quando, onde. Não nos conformamos, queremos que o Estado diga o que se passou.”.
E reafirma para aqueles que dizem que as mães estão vivendo no passado:
“Não estamos no passado, estamos lutando por toda a verdade, por toda a justiça e por toda a memória e não há perdão.”
Comunicado urgente do movimento Mães de Maio
Diante de algumas declarações e insinuações recentes buscando claramente estigmatizar o nosso movimento Mães de Maio, com o patente interesse de criminalizá-lo, nós vimos por meio desta deixar bem claro e reforçado que somos uma Rede de Mães, Familiares e Amigos de Vítimas da Violência com o exclusivo interesse de defender o Direito à Memória, à Verdade e à Justiça referente aos nossos entes queridos vitimados injustamente pela violência de agentes do Estado.
Superando a dor irreparável da perda fatal de nossos filhos e entes queridos, lutamos cotidianamente pela Verdade e por Justiça em relação a TODAS as vítimas atingidas pelos mais diversos tipos de violações dos Direitos Humanos mais fundamentais, a começar pelo direito à vida e à liberdade de ir e vir em segurança por nossas cidades.
Não é por outra razão, senão por conta de nossos princípios e práticas cotidianas em busca de justiça e transformação social pela paz, que ao longo desses mais de seis anos de existência, nosso movimento já foi amplamente reconhecido nacional e internacionalmente, por entidades como a Anistia Internacional, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, a Human Rights Watch, a Clínica de Direitos Humanos da Universidade de Harvard, o Prêmio Nacional 2010 de Direitos Humanos da Secretaria de DH da Presidência da República do Brasil, a Associação de Juízes pela Democracia, o Prêmio Nacional 2011 da Associação Nacional dos Defensores Públicos, o Prêmio Santo Dias 2011 de Direitos Humanos da ALESP, homenagem da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça pelo Dia da Mulher em 2012, entre diversas outras manifestações contundentes de reconhecimento e congratulação pelo nosso compromisso incansável com a Verdade, a Justiça e os Direitos Humanos, sobretudo da população mais pobre e vulnerável no Brasil.
Nada nem ninguém nos desviará desses princípios, desse compromisso e dessa firme trajetória! Tampouco conseguirá, sob nenhuma hipótese, nos estigmatizar fraudulentamente com caracterizações que não nos dizem respeito, em absoluto.
Por Verdade e Justiça, Ontem e Hoje!
Esquecer NUNCA!
MOVIMENTO MÃES DE MAIO
27/06/2012