JORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS / RJ - ANO 24 - N° 73 - setembro 2010 |
Um crime até hoje impune
A OAB-RJ realizou um ato no momento exato “em que a carta-bomba matou a secretária da OAB – 13.40h de 27 de agosto de 1980. São 30 anos e nada foi esclarecido. O ataque não era endereçado a ela, mais sim ao Presidente do Conselho Federal, Eduardo Seabra Fagundes. O crime que matou Dona Lyda Monteiro, até hoje continua sem solução. Ninguém sabe, ninguém viu! A OAB, na figura do grande jurista Seabra Fagundes, sempre se pôs à frente na luta contra a Ditadura, e era para ele a Carta Bomba. Queremos que esse crime seja solucionado, bem como a bomba que felizmente não explodiu no Rio Centro, onde acontecia um festival de MPB com milhares de pessoas, mais sim no carro com dois militares, matando um deles. Em 1980, bancas de jornais no Rio de Janeiro e em outros estados foram alvos do mesmo ataque. Ameaças sempre anônimas. Na época foi realizado uma passeata com 6 mil pessoas que se transformou em protesto contra a ditadura militar, ameaçando os governos militares. Era o início do fim. Os primeiros atentados datam de 1976, quando as bombas foram colocadas na OAB e ABI. A Igreja progressista foi atacada na figura do Bispo Adriano Hipólito que foi sequestrado, torturado e deixado despido com o corpo pintado de vermelho. Terrível audácia daqueles monstros. Com as ameaças anônimas, prédios e escolas eram evacuados diante das ameaças. Essa era uma tentativa de instaurar novamente um regime de terror. Felizmente não conseguiram. Figueredo, o “Presidente da vez”, se “comprometeu” a elucidar esses trágicos acontecimentos, o que jamais ocorreu. O assassinato de Dona Lyda e outros crimes, jamais tiveram sua autoria esclarecida, mesmo depois de 30 anos. Projeto de Memorial dos estudantes mortos e desaparecidos na ditadura militar
No dia 18 de agosto de 2010, reuniu-se no prédio da Reitoria da UFRJ o júri do concurso para o estudo preliminar do Projeto de Memorial dos estudantes mortos e desaparecidos na ditadura militar. Segundo o edital do concurso os trabalhos apresentados deveriam ser projetos de estudantes de arquitetura, urbanismo e belas artes de todas as universidades do estado do Rio de Janeiro. O juri foi integrado pelo Prof. Carlos Vainer (Plano Diretor UFRJ 2020),Prof. Luis Fernando Janot (FAU), Profa. Maria da Graça Gama (EBA), Victória Grabois (Grupo Tortura Nunca Mais/RJ) ,Christiana Galvão Ferreira de Freitas (Secretaria Especial de Direitos Humanos ) e presidido pelo Prof. Pablo Benetti (Plano Diretor UFRJ 2020), nomeados por portaria do Magnífico Reitor da UFRJ, Prof Aloísiso Teixeira.
Os jurados destacaram a extraordinaria qualidade dos trabalhos, a maturidade demonstrada pelos alunos, as soluções engenhosas e criativas e a compreensão das demandas apresentadas pelo edital. Os envelopes contendo o resultado do concurso foram abertos em 30 de agosto último, durante uma reunião do Conselho Universitário/UFRJ. O júri indicou por unanimidade os seguintes prêmios: menção honrosa para os trabalhos de nº 18 e 24; terceiro lugar – trabalho nº 22; segundo lugar trabalho nº 23 e primeiro lugar – traballho nº 12. O Prof. Paulo Benetti, assim classificou o trabalho vencedor, criado por um grupo de alunos da Faculdade de Arquitetura e pela Escola de Belas Artes da UFRJ: Trabalho de enorme criatividade que insere no caminho dos estudantes um local ao mesmo tempo espaço de reflexão e de curiosidade. O contraste entre o relevo plano da praça e um piso irregular onde figuram os nomes dos estudantes mortos e desparecidos faz desta homenagem um canto a liberdade, refirmada pela “floresta” de elementos verticais a procura da vida nas suas múltiplas e variadas dimensões.
A informação está presente no talude inclinado de uma maneira discreta , sem alardes, com simplicidade e extrema beleza. As inúmeras tensões ocasionadas pelos elementos verticais, pela superficie alabeada do piso, pelas fendas pelas quais passa a luz, pelas placas sonoras fazem deste projeto também uma experiência interativa, que certamente terá o valor de preservar a memoria dos estudantes celebrando ao mesmo tempo a vida. O Memorial será erguido na praça em frente ao restaurante dos estudandes “Edson Luís” e sua inauguração está prevista para o dia 10 de dezembro de 2010. Homenagem a Antônio Sérgio de Matos Em 1969, quando cursava Direito na Faculdade Nacional de Direito (UFRJ), Antônio Sérgio iniciou sua militância política no MAR. Fez parte da Associação de Auxílio aos Reclusos (AURES), que dava, à época, assistência aos presos políticos do Presídio Lemos de Brito. Em agosto de 1969, ajudou na fuga de nove presos políticos da Lemos de Brito, o que lhe forçou a entrada na clandestinidade. Passou, então, a militar na ALN e até fins de 1970 permaneceu na cidade do Rio de Janeiro. Posteriormente, deslocou-se para São Paulo, como dirigente regional da ALN. Juntamente com Manuel José Mendes Nunes de Abreu e Eduardo Antônio da Fonseca, Antônio Sérgio foi emboscado na Rua João Moura, na altura do n° 2.358, no bairro de Sumarezinho, São Paulo, e fuzilado no dia 23 de setembro de 1971. Em 1975, sua família conseguiu retirar seus restos mortais e trasladá-los para o Rio de Janeiro, onde foi sepultado no sítio de seus pais, em Macaé (RJ). Os relatórios dos Ministérios da Marinha e Aeronáutica mantêm a versão policial, dada em 1971, de que Antônio teria sido metralhado durante um assalto a um jeep do Exército. Descrevemos abaixo um trecho da carta enviada por sua mãe à Comissão Especial de Mortos/Desaparecidos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República: "(...) Um depoimento de uma mãe sincera, que nunca soube odiar a mão assassina que tirou a vida de um jovem que era orgulho dos pais que o queriam muito, por ser ele um exemplo de filho, de aluno, de amigo sincero. SAUDADES Patricio Rice
Nossa companheira Victória Grabois, esteve com ele a última vez, no Congresso Internacional Psicosocial e de Exumações realizado no mês de abril em Bogotá/Colômbia. Ela recorda com carinho este companheiro que dedicou sua vida à causa das famílias dos desaparecidos. Escreveu no livro que organizou com seus companheiros da Fraternidade Carlos de Foucauld “Em meio da Tempestade”, o seguinte: “A respeito da minha prisão, nunca pensei seriamente que algum dia me iria sensibilizar. Até hoje me custa crer como podem ser tão depravados e perversos aqueles que torturam outros seres humanos em estado de total indefesa. Agora sei que é assim e o ser humano tem a capacidade única para a brutalidade e a maldade (...). Se foi uma experiência atroz, também tenho que confessar que descobri Deus em meio a toda a essa dor e incerteza. Nunca me senti verdadeiramente derrotado e acredito que com Fátima presa junto comigo, nesse momento compartilhamos algo muito profundo com nossos irmãos e amigos que hoje não estão conosco” (...). Reynaldo Andrade de Sá e Benevides Mais uma testemunha dos anos de chumbo que se vai. Faleceu no dia 27 de julho, o irmão e advogado do desaparecido político Luiz Alberto Andrade de Sá e Benevides, Reynaldo, que completara na véspera, setenta e três anos. Nascido em João Pessoa/PB, em 1937, gostava muito de celebrar o 26 de Julho, não só porque era o seu aniversário, mas por coincidir com a data da revolução cubana tão emblemática para sua geração.
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