LIVROS

Anistia ontem e hoje

Autor: Roberto Ribeiro Martins
Editora Brasiliense
3ª edição revista e ampliada
São Paulo, 2010

O Brasil do século XXI ainda resiste em discutir a anistia em todo o seu histórico. Passados mais de 30 anos da lei promulgada em 1979, a terceira edição atualizada deste livro Anistia ontem e hoje de Roberto Ribeiro Martins torna-se ainda mais necessária diante da recusa estatal em abrir plenamente os arquivos do período militar e promover abertamente o debate em torno desse período histórico do Brasil.

Mais atual ainda se torna este livro após a recente decisão em que o STF, por maioria de votos, interpretou a anistia de 1979 como uma “auto-anistia”, estabelecendo, assim, pela primeira vez na história da anistia no Brasil, o caráter de reciprocidade numa anistia, que alcança os agentes do Estado que praticaram torturas; ao tomar esta decisão, o STF desconheceu o caráter imprescritível e insuscetível de anistia atribuído à tortura pela Constituição brasileira e pelos tratados internacionais de direitos humanos. Em seu Posfácio a esta 3ª edição, Anistia ontem e hoje aborda este tema, destrinchando a votação havida no Congresso Nacional em 22 de agosto de 1979, bem como o caráter da lei então aprovada.

Como acentua o jurista Hélio Bicudo ao prefaciar esta 3ª edição:

Todo esse percurso vem contemplado no livro de Roberto Ribeiro Martins, de leitura aconselhável num momento em que o alcance da anistia da lei 6.683/79 vem sendo debatido, tendo em vista a submissão ao devido processo legal de quantos, como agentes do Estado, prenderam ilegalmente, sequestraram, torturaram e eliminaram aqueles que buscavam com o fim da ditadura militar, a volta ao Estado Democrático de Direito. Roberto Ribeiro Martins, mesmo antes da promulgação da atual lei de anistia já referida, mostrava a impossibilidade de beneficiarem-se de seus termos os algozes da ditadura.

Esta 3ª edição do livro que teve a colaboração de Paulo Ribeiro Martins e Luiz Antonio Palmeira, com o título Liberdade para os Brasileiros – Anistia ontem e hoje (Editora Civilização Brasileira, 1978) em sua edição original, chegando na época a situar-se na lista dos mais vendidos no país, agora, de forma revista e ampliada, mas com o mesmo conteúdo original, reacende o debate em torno deste tema candente. E se aproxima do que sentenciou o historiador Hélio Silva na Apresentação à 1ª edição:

O livro de Roberto Ribeiro Martins (...) deveria tornar-se um manual de leitura obrigatória para as crianças, nas escolas, e para os adultos, nos quartéis, nos escritórios e nas oficinas (...)

Agora é oferecido a todos os leitores que anseiam pela conclusão da anistia como um processo histórico completo, e aos que não viveram aquele período tão rico da história nacional para que possam conhecê-lo em sua plenitude.


Glória partida ao meio


Autor: Paulo Ribeiro Martins
Editora 7 Letras
Rio de Janeiro, 2010
313 páginas

O livro tem um título que chamaria ambíguo: “Glória”, substantivo feminino, nome próprio de uma personagem barbaramente torturada, com sofrimentos atrozes em seu corpo e em sua alma e Glória pelos sonhos alcançados, como honra pelos objetivo, pelas utopias, pelos sonhos que não foram jamais atingidos devido à opressão violenta da ditadura militar. Não é só um belo romance, mas tudo é misturado, torturas, diálogos belíssimos entre os personagens, discussões filosóficas, literaturais e musicais.

É mais um testemunho da resistência ao golpe militar de 1964. Sem preocupação documental, no entanto, porque Martins, escritor criativo e não historiador, preferiu trabalhar os fatos à claridade difusa da ficção. Sentidos sob o impacto da emoção pessoal, através do personagem-narrador Ricardo, os fatos adquirem então uma verdade mais próxima, palpável — e mais dolorosa, porque mais humana.

Em seu romance, Paulo Martins, no dizer de Hélio Pólvora, é cheio de vida e rebeldia. E na verdade um misto de conspirações, ações armadas, paixões conflituosas que misturam esperança, felicidade e tragédia. A desesperança, a incerteza diante das torturas, as discussões dentro do próprio movimento leva a impasses. A luta pela liberdade custou muito caro para os que viveram intensamente aqueles tempos obscuros de chumbo, de penosas torturas que muitos não imaginavam. Até hoje existem pessoas que não acreditam que tudo aquilo fosse verdade. Mas, no entanto, era preciso lutar a qualquer custo, não aceitar aquela aberração imposta pelos militares contra aqueles jovens e outros mais velhos.

Nas primeiras páginas há uma rica discussão sobre Sartre, preso cada vez mais às suas convicções marxista. Desde as primeiras páginas do romance, ele nos pega pelo pé e consegue fazer com que não consigamos largá-lo até o final.

Será que o caminho da libertação passa por tudo isso? Para alcançarmos os nossos objetivos, certeza de nossa luta, devemos sofrer tanto?

Tudo é na verdade muito dialético, na vida, no amor, no desamor, na felicidade ou infelicidade, alegria e tristeza, vitórias e fracassos. Pergunta Ricardo, um revolucionário não pode se afastar da realidade, cair no sentimentalismo? Por quê? Somos humanos com sentimentos profundos e atrozes por um amor, por uma causa perdida, por um sonho desfeito. É o ser diante do inevitável e ainda tendo força para lutar, seguir adiante.

Esse belo livro não é um simples romance, é uma constatação de vida. E só em liberdade podemos compreender o valor da vida, pequenos acontecimentos da vida cotidiana.


A grande partida – Anos de chumbo


Autor: Francisco Soriano
Editora Plena Editorial – Núcleo Memória
2ª edição revista e ampliada
Rio de Janeiro, 2010
496 páginas

Quatro décadas após a instalação de uma cruel ditadura no Brasil, Francisco Soriano narra, em A Grande Partida: Anos de Chumbo, a saga vivida com seus companheiros na legalidade, na necessária ilegalidade e clandestinidade.

O resgate histórico, escrito em tom revolucionário, mas também romântico, toca o leitor porque o convida a uma caminhada pela dignificação do ser humano, aguçando a convicção de que sempre é gratificante viver, sonhar e lutar pelo que é justo, sobretudo junto a bons companheiros, ainda que não haja vitórias aparentes.

Com 496 páginas, em sua segunda edição ampliada e atualizada pela Nova Ortografia da Língua Portuguesa, A Grande Partida: Anos de Chumbo nos passa informações preciosas para uma análise mais apurada dos últimos cinquenta anos do Brasil, com destaque para a década de 60. Descreve o endurecimento forçado de um humanista em sua trajetória para libertar uma sociedade submetida ao terrorismo do Estado policial. É também um chamamento à luta, ao evidenciar que quando se equacionou a contradição predominante da ditadura versus democracia, outras passam a explicitar-se: neoliberalismo versus economia solidária, soberania nacional versus dominação norte-americana.

Depois do livro, o autor toma para si uma segunda missão:  reunir  vários  companheiros, sobreviventes  da  ditadura  de  1964, para relembrarem e contarem marcantes episódios da luta, também retratada no vídeo homônimo, com relatos, antes silenciados pelos traumas do regime.

É  uma renovação de esperança pela emancipação do povo e da nossa nação.


O estádio era mais alegre



Autor: Nilton Bahlis dos Santos
Arquimedes Edições
Rio de Janeiro, 2010
496 páginas

Há 37 anos, no dia 11 de setembro de 1973, a “mais sólida”democracia da América do Sul sofreu um atentado, que deixou milhares de mortos no seu rastro. O Chile foi vítima de um golpe militar. Allende foi derrubado e morto. O cotidiano dos milhares de presos no Estádio Nacional, logo após o golpe, é o cenário desse romance depoimento.

Nilton Bahlis dos Santos conta como foi preso, depois de se exilar no Chile, devido à perseguição da ditadura brasileira que prendia assassinava e “desaparecia” os militantes que lhe resistiam. Com uma impressionante memória, lembra como se organizavam dentro do estádio, a fome com a qual se “acostumaram”, as músicas que cantavam, enfim de como coseguiam driblar a repressão e se manter vivos. Tudo com um estilo que prende o leitor da primeira à última página.

E, embora testemunha de tantas barbaridades que ali aconteceram, ele ainda se diz uma pessoa de sorte: “Gostei de ter vivido momentos e ter passado por lugares a que forças tão poderosas me levaram. Tive o prazer de viver situações onde sonho e realidade se aproxima, até se confundirem. Vivi, intensamente, acreditando em um mundo diferente. Nos lançamos de corpo e alma para alcançá-lo; com a vontade de quem acredita que a diferença entre o possível e o impossível é que este é, apenas, um pouco mais difícil.”

O estádio era mais alegre é uma grande contribuição para a compreensão da história do Brasil e da América Latina, já que continuamos a lutar pela memória dos fatos que fizeram as ditaduras das décadas de 60 e 70.

O autor:
Nilton Bahlis dos Santos é gaúcho e começou a fazer política no Colégio Julinho em Porto Alegre. Na Arquitetura da URGS, participou da direção da entidade estudantil que se reorganizava, após o golpe de 1964. Em 1966 foi para a diretoria do DCE e depois para a UEE do Rio Grande do Sul. A partir de 1967 foi para a diretoria da UNE e esteve à frente das lutas estudantis e popu­lares que marcaram o ano de 1968 em todo o país.

Já escreveu vários livros, entre eles “E também lhes ensine a ler: A experiência da Cruzada Nacional de Alfabetização da Nicarágua”.

 


CINEMA

Luto como Mãe

“Ignora-se que, para cada marido, cada filho, cada homem morto, existe sempre uma mulher por trás”
Luis Carlos Nascimento, diretor do documentário

O longa retrata chacinas cometidas por policiais repercutidas em todo o país e nomeadas como as “Mães de Acari”, “Chacina da Candelária”, “Chacina da Baixada” e outras tão importante quanto essas. Durante quatro anos, Luis Carlos Nascimento acompanhou de perto junto com uma equipe de cinema o drama dessas mães, desde a coleta de depoimentos até os desdobramentos dos casos perante a justiça.

“Luto como Mãe” participou da 14ª edição do Festival Internacional do Rio (2009) – onde concorreu a três prêmios: melhor direção, melhor documentário e melhor filme do júri popular; no Festival Viña del Mar (Chile/2009); no 12ª Festival de Cinema Brasileiro de Paris (França/2010); no 1ª Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa – FESTin (Portugal/2010); na 3ª Mostra Internacional de Cinema em Língua Portuguesa, entre outros.

O documentário "Luto como Mãe" tem a direção do cineasta Luis Carlos Nascimento, produção da TV Zero, Jabuti Filmes e Cinema Nosso. O longa foi realizado em parceria com CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal) e CESEC – Centro de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e conta também com o apoio da Fundação Ford, IPAD – Instituto Português para o Desenvolvimento, Sebrae/Rj e Fase. 

Agende sessões especiais com debates através do número: (21) 2505-3311



POESIAS

Projeto Poesia, Vida e Paz, Violência não!

Valdelice Roriz

Nem muito aos gritos
Tornaram vivas as tristezas
Nas terras sem fronteiras
No solo da Pátria, diz mãe gentil.

Mas teu filho varonil
Que em seio ninaste
Sem razão sumiu.

Oh! Pátria amada!
Perdeste filhos inocentes,
Nas matas, nos mares de anil.

Por que ensinaste?
Morrer pela Pátria?
Sem saber que dela foste filho
E que outros filhos não foram gentis.

Aos irmãos que mataram
Aos poucos sem dó
Oh! Pátria amada!
Mãe não chore!
Pelas perdas sem fim.

Alguns filhos foram embora
E alguns nem se sabem pra onde levaram
Aqueles tantos os covardes
Que até as portas abriram.

Sem filhos, sem soberania
Assim ficaste, terra mãe gentil!
Não foi golpe de foice
Pior talvez, foi o golpe que trouxe
Quase o fim do meu Brasil.

 

Tempo

O tempo passou
Nem sempre levou
As marcas deixadas

Fomos achados, chamados
De bandidos, bandidas
Nem as mortes apagaram
As marcas passadas

De vidas sombrias
Destinos cruéis
Muitos foram em frente
Outros nem falam mais

São tantas as injustiças
Que transformaram as vidas
Em massacres contínuos

Massificam opiniões
Como as massas
Dos pães, que gases fazem

Como expelir as maldades
Mostra as verdades viver a vida

Presente!

Tendo em mente
As alegrias da vida
Dizer com firmeza
Tortura não mais
Tortura não
Tortura no chão!