A criminalização das Lutas do Campo
A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) é uma associação livre e independente de camponeses pobres. Em mais de dez anos de existência, retomou mais de 60 áreas onde hoje milhares de famílias estão em suas terras, têm propriedade de seus lotes e transformaram suas vidas ao se libertarem da exploração do latifúndio. A LCP é um movimento, que não vive de créditos do governo e que se sustenta pelo apoio das famílias camponesas e da solidariedade de operários, professores, estudantes e outros.
Desde o dia 16 de janeiro de 2010, Flavia Avelina e Wanderson Antonio, estão presos por porte ilegal de armas. Eles são assessores da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas Gerais e Sul da Bahia e atuam no apoio ao trabalho de alfabetização de jovens e adultos no campo e na organização dos cursos de formação do movimento. Apesar de serem réus primários e terem residência fixa tiveram o pedido de liberdade provisória negado pela Juiza de Manga, Maria Beatriz da Costa Biassutti.
O delegado de Jaíba, Bruno Esteves da Costa, acusa por crime de formação de quadrilha, Flavia e Wanderson, além de João Batista Pereira da Cruz (Pedrão) e José Ilson Silveira. Sem apresentar provas contundentes, o delegado afirma em seu relatório entregue à Justiça que a LCP é uma “organização criminosa com ânimo associativo e definido, que tem o fito de prática reiterada de crimes como esbulho possessório, entre outros que estão sendo apurados, como os de extorsão e desvio de verbas públicas”.
No dia 08 de fevereiro, ocorreu na cidade de Manga no norte de Minas Gerais, uma grande manifestação em solidariedade a Wanderson e Flávia. A manifestação, organizada pela Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e Sul da Bahia, contou com mais de 400 participantes, a maioria camponeses representando todas as áreas do Norte de Minas, além de representantes da Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres, Liga Operária, Associação Brasileira de Advogados do Povo - Abrapo, Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos – Cebraspo, Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Belo Horizonte - STICCBH, Escola Popular, Comitê de Apoio a Luta Camponesa de Montes Claros - CALC, Núcleo Pró-Liga Operária de Montes Claros e Movimento Estudantil Popular Revolucionário.
Na mesma direção, também em Minas Gerais, o Tribunal de Justiça condenou João Batista da Fonseca, da Coordenação Nacional do MTL e presidente do PSOL em MG, e Wanduiz Evaristo Cabral, da Coordenação do MTL e Executiva Estadual do PSOL/MG; também foi condenada em primeira instância a advogada e coordenadora do MTL, Marilda Ribeiro, tudo isso em função da vitoriosa luta pela desapropriação da Fazenda Tangará, em Uberlândia, ocorrida entre os anos 1999/2000 (MTL, Movimento Terra Trabalho e Liberdade, 03/11/09).
Hoje, a fazenda Tangará é um assentamento da reforma agrária, onde estão assentadas duzentas e cinquenta famílias de trabalhadores rurais. A partir da comprovação de sua improdutividade e do não cumprimento da função social da propriedade, os trabalhadores rurais conquistaram legitima e legalmente esta fazenda.
Manifestamos nossa solidariedade e apoio irrestrito aos companheiros e suas organizações atacados e criminalizados. Propositivamente, comemoramos com os companheiros cada pedaço de terra conquistado em favor dos camponeses pobres. Entendemos que a terra é um bem natural e tem uma função social, portanto, ela não deve ser entendida como mercadoria.
Por Joana d’Arc Ferraz
Latifundiário e bando armado torturam e assassinam camponeses
Corpos de Élcio e Gilson trucidados pelos pistoleiros de Dilson
No dia 8 de dezembro mais dois jovens camponeses foram assassinados por lutarem pela terra em Rondônia, Élcio Machado, conhecido como Sabiá, e Gilson Gonçalves participavam com outras 45 famílias do Acampamento Rio Alto, em Buritis. Élcio era casado e pai de 3 filhos. Gilson também era casado, mas ele não chegou a conhecer seu filho que deve nascer daqui há 4 meses.
O latifundiário Dilson Caldato foi o mandante e seus pistoleiros foram
os executores. Eles sequestraram os companheiros, amarraram os pés e as mãos de Élcio e Gilson e os torturaram durante horas. Quebraram seus dentes a coronhadas. Com alicates e facas arrancaram as unhas e tiras de couro das costas dos companheiros. Élcio levou um tiro no braço e teve sua orelha esquerda decepada. Ambos foram executados com um tiro de espingarda calibre 12 na nuca.
Este foi mais um crime anunciado. Há vários meses temos denunciado o clima de terror que Caldato e seus pistoleiros impuseram aos camponeses acampados e vizinhos. As terras do acampamento Rio Alto são de um antigo Projeto de Assentamento do Incra griladas por Caldato. Ele tem ganhado rios de dinheiro com a venda de madeira da área.
Élcio era a principal liderança do acampamento, mas os pistoleiros não conheciam seu rosto. Foi numa reunião no Incra, no dia 03 de dezembro que os pistoleiros que estavam presentes puderam identificá-lo. Mais uma vez, o Incra cumpriu seu papel de dedurar líderes camponeses para os latifundiários executarem sumariamente.
Do jornal da Comissão nacional das Ligas de Camponeses Pobres e da
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
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