MORRER PARA VIVER
A Luta de Tito de Alencar Lima contra a Ditadura Brasileira
De Ben Strik, com prefácio de Frei Betto, 719 páginas e mais de 200 ilustrações.
“Morrer para Viver” descreve a biografia de Frei Tito de Alencar Lima desde seu nascimento em 1945 até sua morte na França em 1974. Sua maneira de pensar, seus ideais. Sua luta contra a ditadura e seu exílio. Seu sofrimento depois das torturas físicas e mentais e sua morte. Para compreender seus motivos o livro esboça a negativa histórica do Brasil desde 1500 até hoje como a causa de seu idealismo fabuloso.
Sobre o autor
Ben Strik é holandês. Nasceu em 1923 e lutou contra os nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial. Tornou-se sacerdote salesiano de Dom Bosco e trabalhou 22 anos no Brasil. A descoberta de semelhanças marcantes entre a vida dele e a de Frei Tito de Alencar Lima, deu a Ben Strik a idéia de fazer ouvir as razões que o levaram a dar sua vida por seus compatriotas oprimidos e abandonados.
Ao mesmo tempo, Ben Strik apresenta Frei Tito como um exemplo para todos os jovens do mundo, que, igualmente como ele, querem lutar por uma sociedade mais justa.
Encomenda e Informações
Editora “Brasilboeve”, Holanda
Paperback 2009-09-11
Parte da renda será para abrir um museu em honra de Frei Tito em Fortaleza.
O VELUDO, O VIDRO E O PLÁSTICO
Desigualdade e Diversidade na Metrópole
De Luís Antonio dos Santos Baptista, pela EdUFF, 2009, com 124 páginas.
A partir da Lei 180, a Itália experimenta, desde maio de 1978, uma mudança na estrutura manicomial com a extinção das longas internações em todo o seu território. Essa transformação, proposta pelo médico psiquiatra Franco Basaglia, estimulou o professor Luis Antonio dos Santos Baptista a escrever o livro O Veludo, o Vidro e o Plástico – Desigualdade e Diversidade na Metrópole, lançado na XIV Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, em setembro, pela Editora da UFF. O trabalho é o resultado do projeto de pós-doutoramento de Baptista, que desenvolveu o seu ensaio baseado em alegorias – o veludo, o vidro e o plástico – para marcar a vida de três personagens saídos do cotidiano do autor, quando este viajou à Itália, onde pôde observar de perto esse processo, na década de 1990. Na realidade, de acordo com o próprio Luis Antonio, seu objetivo é convidar o leitor, seja ele um especialista ou não, à reflexão sobre as produções e intervenções sobre as diferenças, as políticas da tolerância e da intolerância nas cidades do capitalismo contemporâneo.
Por esse motivo, o trabalho de pesquisa, misto de texto científico e literário, está relacionado não só à questão da saúde mental, como também a outros desafios da cidade. Neste contexto, o autor apresenta a vida de um travesti nordestino, que conheceu em Roma, onde trabalhava e se vestia com uma saia de veludo. O isolamento vivido por um faxineiro peruano, que somente se relacionava com pessoas de sua nacionalidade, é traduzido no saco plástico que o “personagem” utiliza no seu dia a dia e que consiste na segunda alegoria apresentada no ensaio. Já o vidro do título se relaciona com os delírios de uma paciente psiquiátrica que pega o ônibus com uma garrafa de cerveja na mão e, com o sacolejar do coletivo, acaba quebrando-a.
Sobre o autor
Professor titular do Departamento de Psicologia da UFF, graduado em Psicologia pela Universidade Gama Filho, com mestrado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e Doutorado pela Universidade de São Paulo, Luís Antonio dos Santos Baptista sempre se interessou pela pesquisa, sobretudo, pelas questões relacionadas às políticas da subjetividade na experiência urbana. Autor, entre outras publicações, dos livros A Cidade dos Sábios (menção honrosa pela União Brasileira de Escritores), ed. Summus, 1999, e A Fábrica de Interiores: a formação psi em questão, ed. EDUFF, 2000.
Damião Ximenes
Primeira condenação na Corte Interamericana de Direitos Humanos
De Nadine Borges, Editora Revam com 240 páginas.
O livro apresenta ao leitor o relato dramático do caso Damião Ximenes, um paciente portador de transtorno mental que foi imobilizado, espancado e morto em uma clínica psiquiátrica situada em Sobral/CE, em 04 de outubro de 1999.
A partir desse caso, a autora descreve a denúncia pública apresentada por Irene Ximenes Lopes Miranda, irmã de Damião, à Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH da Organização dos Estados Americanos – OEA e demonstra toda a trajetória do caso até a condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2006. O registro do patológico, a violência e o impacto da dor também são analisados visando a uma reflexão sobre o acesso à justiça e as possibilidades de denunciar as violações de direitos humanos internacionalmente.
Nadine Borges investiga, com um aporte adequado de conceitos sociológicos e jurídicos, os dispositivos sociopolíticos que transformaram o que seria mais uma tragédia pessoal em um caso exemplar, público, de condenação do país em um tribunal internacional de direitos humanos.
Sobre a autora
Nadine Borges é advogada, mestre e doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense – PPGSD / UFF. Realizou curso de extensão sobre o Sistema Interamericano e Universal de Proteção dos Direitos Humanos, organizado pela American University Washington College of Law (WCL-AU), Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) e Internacional Service Human Rights (ISHR) em Washington/DC. Foi advogada da Justiça Global, organização não-governamental, sediada no Rio de Janeiro. Atualmente dedica-se à pesquisa sobre o acesso ao sistema interamericano de direitos humanos e supervisiona uma das clínicas do Núcleo de Prática Jurídica da FGV Direito Rio.
Soledad no Recife
De Urariano Mota, da Editora Boitempo, 120 páginas.
O livro Soledad no Recife, do escritor e jornalista pernambucano Urariano Mota, percorre as veredas dos testemunhos e das confissões ao reviver a passagem da militante paraguaia Soledad Barrett pelo Recife, em 1973, e a traição que culminou em sua tortura e assassinato pela ditadura militar.
Delatada pelo próprio companheiro Daniel, conhecido depois como Cabo Anselmo, Soledad morre com um grupo de militantes socialistas, na capital pernambucana, pelas mãos da equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury. O episódio ficou conhecido como “O massacre da chácara São Bento” e revelou-se um extermínio, uma execução coletiva, diferente de um confronto armado.
A trama real inspira o romance em que Urariano Mota – com a propriedade de quem viveu e sobreviveu aos anos pós 1964 – aponta para os vestígios da traição arquitetada contra Soledad e contra o País naqueles tempos, com o olhar reflexivo de quem se volta ao passado. A vida e morte de Soledad é um forte contraponto à “história oficial” propagada pela mídia na época, e um testemunho da violência do Estado.
Nas palavras de Flávio Aguiar, que assina a apresentação da obra, Soledad no Recife é a recuperação de uma história, “como preito àquelas vidas que se doaram e foram ceifadas pela traição inesgotável que foram o golpe e a ditadura de 1964 ao seu próprio país – traição espelhada na de Anselmo ao amor que, sabe-se lá por quê, despertou em Soledad”..
Olho por Olho
De Lucas Figueredo, Editora Record
De volta aos quartéis, em 1985, os militares golpistas de 1964, com o apoio das gerações seguintes da caserna, decidiram silenciar sobre os crimes perpetrados durante a ditadura militar. Tratava-se de um plano de esquecimento calcado na Lei da Anistia, de 1979, mas surpreendentemente desconstruído logo nos primeiros meses da redemocratização. Sem estardalhaço, no dia 15 de julho de 1985, o livro “Brasil: Nunca Mais” apareceu nas principais livrarias do país e provocou um terremoto nas pretensões de amnésia coletiva alimentadas pela turma fardada que havia mandado e desmandado, por 21 anos, na República. O BNM era uma obra de 312 páginas, resultado de seis anos de trabalho clandestino de voluntário sob o manto protetor do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de São Paulo, e do falecido reverendo Jaime Wright, pastor presbiteriano defensor da causa dos direitos humanos no Brasil. O livro era um resumo sucinto, mas devastador, da rotina de torturas, assassinatos e desaparecimentos forçados de presos políticos durante a ditadura.
Mestre em fazer autopsias em defuntos quentes da crônica política nacional, o jornalista Lucas Figueiredo faz do processo de construção do “Brasil: Nunca Mais” o ponto de partida para, então, desnudar outro livro, fruto de uma reação das sombras, o Projeto Orvil, idealizado nos quartéis para ser o contraponto dos saudosistas da ditadura aos fatos e nomes relacionados pelo BNM. Esse duelo entre opostos que se atraem, como observa Figueiredo, paira sobre a narrativa do livro “Olho por olho”, editado pela Record. A sequência de informações baseia-se numa impressionante incursão pela doutrina militar brasileira forjada pelo anticomunismo e pelas paranóias ideológicas estimuladas e difundida pelas forças armadas durante a Guerra Fria.
O “Orvil” (isso mesmo, livro ao contrário), longe (na verdade, incapaz) de ser uma obra literária, é uma compilação das muitas apostilas sobre guerra revolucionária, até pouco tempo em voga nas escolas e academias militares do país.
Lucas Figueiredo é especialista em investigação jornalística e autor de livros-reportagens fundamentais para se entender a história política nacional, em tempos distintos. Foi durante a apuração de um deles, “Ministério do Silêncio” (Record, 2005), sobre a formação dos serviços secretos brasileiros, que Figueiredo se bateu com a informação sobre a existência do “Orvil”, projeto ordenado pelo ex-ministro do Exército Leônidas Pires, durante o governo José Sarney, para reduzir o dano provocado pelas revelações do “Brasil: Nunca Mais”.
Ao conseguir botar as mãos, em 2007, em um dos 15 exemplares do “Orvil” ainda existentes, Lucas tornou pública a primariedade das orientações políticas que transformaram o Exército brasileiro, por duas décadas, numa máquina de perseguir opositores e, eventualmente, triturar seres humanos. Ao longo de quase mil páginas – mal escritas, militarmente hierarquizadas –, os autores se deram ao trabalho de rebater as acusações com trechos da doutrina de segurança nacional e versões fajutas sobre mortes de prisioneiros em combates inexistentes. Dá mil voltas, sem nunca sequer chegar perto do único assunto sobre o qual valeria a pena ler um livro dessa natureza: a verdade sobre a tortura e os torturadores.
José Sarney vetou a publicação do livro, em 1988, depois de avisar ao general Leônidas Pires que não iria iniciar uma crise à toa. O militar acatou a idéia e a tomou como ordem. O destino do “Orvil” foi o de virar uma espécie de bíblia secreta dos adoradores dos porões. Parte do texto, 40 páginas, começou a vazar, em 2000, justamente, por sites de conteúdo de extrema-direita mantidos e apoiado por ex-militares oriundos dos órgãos de repressão da ditadura. Foi a partir de muitas informações retiradas do “Orvil” que o mais conhecido torturador do regime, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI de São Paulo, produziu duas pérolas do anti-revanchismo deflagrado pelas Forças Armadas, nos últimos vinte anos: “Rompendo o silêncio”, de 1987; e “A verdade desnudada”, de 2006.
Lucas Figueiredo colocou as mãos em um exemplar encapado do “Orvil” e o dissecou com afinco. Teve o cuidado de cruzar informações em bases de dados distintas. É a visão do repórter que norteia o encadeamento dos capítulos de “Olho por olho”, o título a sugerir a óbvia vingança. A estrutura de jornalismo literário torna simples e didática, quando não divertida, a compreensão dessa passagem assustadoramente recente da história nacional. Mostra, por exemplo, que no afã de recontar a história da ditadura, os militares do Projeto Orvil acabaram por revelar o destino de presos políticos desaparecidos.
A principal revelação de Figueiredo, no entanto, não é exatamente o conteúdo do “Orvil”, embora isso já valha a leitura, mas a bizarra salada ideológica do livro secreto da ditadura, para não falar da infinita capacidade de seus guardiões de reinventarem a verdade.
Do jornal “O Berro”
Pistas do Método de Cartografia
Autores: André do Eirado, Eduardo Passos, Johnny Alvarez, Laura Pozzana de Barros, Liliana da Escóssia, Regina Benevides de Barros, Silvia Tedesco, Virgínia Kastrup. Capa de Alexandre de Freitas (sobre litografia de Angelo Marzano). Organizadores: Eduardo Passos, Virgínia Kastrup, Liliana da Escóssia. Editora Sulina/Sul Editores. 207 páginas.
Pesquisadores que investigam processos nas áreas de saúde, educação, cognição, clínica, grupos e instituições, dentre outros, enfrentam muitas vezes, na escrita de seus projetos, dificuldades em dar conta do item consagrado ao método. Como nomear as estratégias empregadas, quando elas não se enquadram bem no modelo da ciência moderna, que recomenda métodos de representação de objetos pré-existentes? O livro apresenta oito pistas do método da cartografia, que se apresenta como uma aposta fecunda frente ao desafio de acompanhar processos, lançando mão de um método igualmente processual. Em lugar de regras e protocolos, as pistas destacam a importância da prática de ir a campo, lançar-se na água, experimentar dispositivos, habitar um território, afinar a atenção, deslocar pontos de vista e praticar a escrita, sempre levando em conta a produção coletiva do conhecimento.
Só queria essas alegrias assim, mas nem assim!
Deley de Acari
“Coração, tão resistente que “762” não perfuram, tão frágil que pétalas de rosas dilaceram”
(...)
Assim: Durante quase dois meses levei cerca de 48 meninos do Complexo de Acari pra disputar uma Copa de Futebol Society na Barra.
Foram sete fins de semana viajando 04 horas de ônibus ida/volta
Acari/Barra/Barra/Acari, ficando o dia inteiro jogando contra as escolinhas dos times mais ricos do Brasil com apenas um copo de refrigerante e meio pacote de biscoito na barriguinha favelada de cada um.
Resultado: O nosso mirim, meninos de até 13 anos, foi campeão.
Foi motivo de alegria pra mim, e uma ponta de inveja: varias escolinhas tinham meninas jogando junto com os meninos.
Ri muito quando alguns dos meninos de nosso time achavam que iam dar canetas, lençóis nas meninas dos times adversários e ficavam bolados quando as meninas é que deram canetas e lençóis neles.
UMA PEQUENA ALEGRIA
Retomei os treinos depois da Copa acalentando o sonho de botar umas meninas pra treinar também, não meninas adultas, mas meninas pequeninas, com 10, 12 anos... na idade deles.
Essa semana, ontem enfim aconteceu: uma menina, uma doce e maravilhosa criaturinha humana apareceu.
Mandei ela pegar o colete de treino e entrar na roda de alongamento e aquecimento e fiquei aguardando o protesto dos meninos. Para minha surpresa, não só não houve protesto como um dos meninos a ajudou a por o colete direito e a orientou a fazer os exercícios e sequer “notaram” que tinha uma menina no meio deles no coletivo.
OUTRA PEQUENA ALEGRIA
Ontem também haveria um torneio no Amarelinho pra menorzada de menos de 9 anos. Seria a primeira vez que os pequeninos sairiam da Parmalat, ocupação onde moram, na beira do rio Acari, pra atravessar a favela e ir pro Amarelinho, do outro lado de Acari, lugar que a maioria jamais foi.
Era pra mim uma alegria a mais pois íamos acompanhados da Danny, adorável companheira de lutas, que veio de Foz do Iguaçu, está no Rio, é nutricionista, e eu alimento o sonho de vê-la.
Trabalha no Projeto Fome de Bola, Nutrição de Cidadania cuidando da alimentação e da saúde da menorzada.
Mas aí veio a frustração: pouco antes de subir com a menorzada para o Amarelo, começou um operação da policia civil, caveirões voadores pra lá e pra cá. Suspensa a participaçãop da menorzada, e eu não tinha ideia, não caia a ficha, do quanto tava sendo frustrante pra mim. Talvez porque eu tava mais preocupado em levar Dany de volta pra um lugar seguro, ou pegar ônibus de volta pra casa. Cheio de medo que o caveirão voador da civil fizesse pontaria na gente.
Mais uma outra pequena alegria:
De manhã teve treino novamente, tinha bastante garotos, uns 40.
Como sempre os menores treinam primeiro, depois os mais velhos. Depois do treino dos menorzinhos, foi o treino, dos meninos de 10 e 11 anos.
E aí mais outra pequena alegria: apareceu mais uma menina. Entrou alongou, aqueceu com os outros meninos, e como a outra, jogou com eles.
Enquanto isso os maiores, de 12 á 15 anos aguardavam a vez deles.
Eu estava muito feliz, queria que Dany estivesse ali de novo, queria que toda Acari estivesse ali vendo aquelas meninas treinarem junto com os meninos, como iguais a eles.
Mas de repente, do nada, novamente o ronco do caveirão voador, e atrás do ronco da “besta” a própria besta, a menos de 150 metros de altura dando tiros adoidado.
Mandei todos sentarem no chão. De repente, “meninos” de moto e a pé passam pela quadra correndo e o caveirão paira, há uns 70 metros sobre a quadra por uns cinco minutos, fuzis apontados pra gente.
Minha primeira reação foi jogar pedaços de lajotas nele, mas pensei nos meninos.
(...)
Meus olhos estavam muito marejados de lágrimas que eu não tinha certeza de conseguir ver o caveirão o bastante pra focá-lo com a câmera e ao mesmo tempo acertar um teco com a outra.
Meus olhos estavam embaçados tanto que nem sei quem foi o morador que passou na hora e me puxou pra dentro de uma barraca.
Fui pra casa, tentei almoçar, dormi triste, deprimido, e acordei cheio de raiva impotente e chorando muito.
Só mesmo uma água mineral com gás e limão pra acalmar um pouco.
Já não sonho muito mais com grandes alegrias, me contento com as pequenas conquistas da meninada da favela, como uma roda de funk, um troféu num festival... (...)
Quando pequenas alegrias de um reles favelado como eu se frustram assim, tudo que era certeza não passa de dúvidas:
Mas uma outra certeza, sinistra: melhor mesmo um fuzil nas mãos que uma bola nos pés destes meninos. (...)
É isso que os governantes querem, é isso que a sociedade civil quer pra gente, meninada favelada.
E pra gente, mais-velhos, a desesperança, o medo agudo e dilacerante do futuro, inclusive do próprio... e o cruel sentimento de impotência de que possa haver mesmo dias melhores e mais felizes pra gente da favela.
(...)
Está aberta a temporada de depressão, tristeza de não saber e choros convulsivos por qualquer da cá minha palha.
“Ando tão á flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar” Zeca Baleiro
Quanto mais o vôo sinistro covarde, cruel, desumano de um Caveirão Voador pondo terror e desesperança numa menorzada favelada que só queria pequenas alegrias assim.
Roteiros para a vida de Iara
Uma obra importante para a memória brasileira foi apresentada no início deste ano de 2009, no Departamento de Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp: Mariana Pamplona defendeu e teve aprovada sua dissertação de mestrado Clandestina: Iara Iavelberg, dois roteiros.
Um dos roteiros é para um filme documentário: Suicídio? Este roteiro é centrado no esclarecimento da morte de Iara. Segundo a versão até hoje dominante, ela teria se suicidado. Tristemente, a versão do suicídio prevalece na mídia e também em livros e filmes. A recente exumação do corpo de Iara provou que ela foi assassinada por agentes da repressão da ditadura militar.
O outro roteiro é para um filme de ficção: Clandestina. Este roteiro acompanha a trajetória da vida de Iara, mas evita centrar-se em explicações sobre o momento político. Ele vai desde o tempo em que Iara era estudante de Psicologia na USP e líder do movimento estudantil dos anos 1960, até sua participação na luta armada, ligada à VPR e à VARPALMARES.
Durante o período mais radical da ditadura militar no país, Iara entrou para a clandestinidade e viveu um intenso romance com Carlos Lamarca. Ela foi assassinada durante um cerco policial ao apartamento onde morava, na cidade de Salvador, em agosto de 1971.
Festival Chris Marker
O Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo está realizando um Festival Chris Marker, aproveitando a oportunidade de “o ano da França no Brasil”. Este cineasta francês, muito elogiado pela crítica especializada e por autoridades do mundo cinematográfico, merece toda a nossa atenção pela sua obra em prol dos direitos humanos. Já fez dois filmes sobre o Brasil:
“On vous parle du Brésil: Tortures” de 1969 e “On vous parle du Brésil: Marighela”, de 1970.
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