Neste número o GTNM/RJ homenageia quatro companheiros que lutaram e morreram à época da ditadura militar em prol da democracia e da justiça social, militantes das organizações: Movimento Revolucionário Tiradentes, Movimento de Liberação Nacional e Vanguarda Popular Revolucionária. São eles:


Joaquim Alencar de Seixas

Militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT)

Nasceu em Bragança, estado do Pará, em 02 de janeiro de 1922, filho de Estolano Pimentel Seixas e Maria Pordeus Alencar Seixas. Operário, pai de 4 filhos, tornou-se militante político aos 19 anos de idade.Trabalhou como mecânico de aviões em várias empresas, entre as quais Varig, Aerovias e Panair. Perdeu o emprego várias vezes por questões políticas. Na Varig apresentou denúncia contra a empresa, mostrando a ligação que havia entre ela, o governo Vargas e o governo nazista da Alemanha. Os proprietários da empresa eram de origem alemã e estariam colaborando com o governo alemão. Por esta razão perdeu o emprego.

Em 1964 trabalhava na Petrobras, como encarregado do setor de manutenção e militava no movimento sindical petroleiro, quando foi dado o Golpe de Estado. Ele e vários líderes do movimento sindical simularam um acidente para poderem passar pelo cerco armado pelo Exército, que já havia tomado a Refinaria Duque de Caxias, no Rio. Usando tanques de guerra, carros de combates e muitos soldados armados, as forças militares prendiam as lideranças operárias. Para furar o cerco, o setor de segurança da Refinaria acionou o alarme contra acidentes e as ambulâncias passaram com os líderes cobertos com lençóis sujos de sangue (na verdade, tinta vermelha).

Durante vários meses, Seixas e seus companheiros sindicalistas tiveram suas casas vigiadas por policiais e ficaram escondidos até que a perseguição diminuísse. Quando voltaram para o trabalho foram demitidos sem direito algum. Seus nomes passaram a fazer parte de listas que não lhes permitiam encontrar emprego. Na tentativa de furar a perseguição, Seixas e família foram para o Rio Grande do Sul onde trabalhou como marceneiro e frentista de posto gasolina.

Ingressou no Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), tornando-se um de seus dirigentes. Seixas foi preso junto com seu filho menor Ivan, na Rua Vergueiro, altura do n° 9.000, no dia 16 de abril de 1971. Do local da prisão, ambos foram levados para a 37ª Delegacia de Polícia, que fica na mesma rua, na altura do nº 6.000, onde foram espancados no pátio do estacionamento, enquanto os policiais trocavam os carros usados para o esquema de prisão. De lá foram levados para o DOI/CODI, que a esta época ainda se chamava Operação Bandeirantes-OBAN. No pátio de manobras da OBAN, pai e filho foram espancados de forma tão violenta, que a algema que prendia o pulso de um ao outro se rompeu. Dessa sessão de espancamento, ambos foram levados para a sala de interrogatórios, onde passaram a ser torturados um defronte ao outro. Nesse mesmo dia, sua casa foi saqueada e toda sua família presa.

No dia seguinte, 17 de abril de 1971, os jornais paulistas publicavam uma nota oficial dos órgãos de segurança, que dava conta da morte de Joaquim Alencar de Seixas em tiroteio. Na realidade, Seixas estava morto só oficialmente, pois nesta mesma hora se desenrolavam torturas horríveis, o que pôde ser testemunhado por seu filho Ivan, sua esposa Fanny, e suas duas filhas, Ieda e Iara, presas na noite anterior. Por volta das 19 horas deste dia, Seixas foi finalmente morto. Sua esposa, Fanny, ouvindo que seu marido acabara de morrer, pôs-se nas pontas dos pés e viu os policiais estacionarem uma perua C-14 no pátio de manobras, forrarem seu porta-malas com jornais, e colocarem um corpo que reconheceu ser o de seu marido. Não bastasse o seu reconhecimento, ouviu um policial perguntar a outro: “De quem é este presunto?” e como resposta, a afirmação: “Este era o Roque” (nome usado por Seixas).

No processo a que responderia se estivesse vivo, consta uma fotografia de seu cadáver com os sinais dos sofrimentos passados, e um tiro na altura do coração, que indicaria a causa-mortis. Os assassinos de Joaquim Alencar de Seixas foram identificados por seus familiares e companheiros como sendo o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, o capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, o delegado Davi Araújo dos Santos, o investigador de polícia Pedro Mira Granziere e vários outros, identificáveis somente por apelidos.

Assinam o laudo de necrópsia os médicos legistas Pérsio José B. Carneiro e Paulo Augusto Queiroz da Rocha, que confirmam a falsa versão oficial da repressão de que Joaquim foi morto em tiroteio, e omitem as torturas. Vários presos políticos declararam em Auditorias Militares, à época, as torturas e osassassinato de Joaquim na OBAN.


Jeová de Assis Gomes

Militante do Movimento de Libertação Nacional (MOLIPO)

Nasceu em Araxá, no Triângulo Mineiro. Estudava Física na Universidade de São Paulo. Foi militante da Ação Libertadora Nacional e depois do MOLIPO.

Foi preso em Brasília, Distrito Federal, no dia 12 de novembro de 1969. Levado para São Paulo, foi torturado e teve que engessar as duas pernas fraturadas. Foi banido do país quando do sequestro do embaixador alemão Von Holeben, em 1970. Partiu para a Argélia, em 13 de junho daquele ano.

Retornando clandestinamente ao Brasil em 1971, Jeová radicou-se na cidade de Guará, Goiás. No dia 9 de janeiro de 1972, Jeová foi localizado quando se encontrava no campo de futebol daquela cidade onde recebeu um tiro de fuzil desfechado covardemente pelas costas. 

 


Edson Neves Quaresma

Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)

Filho de Raimundo Agostinho Quaresma e Josefa Miranda Neves, nasceu em 11 de dezembro de 1936, no Rio Grande do Sul. Ex-sargento da Marinha, da qual foi expulso com o golpe militar de 1964.

No dia 5 de dezembro de 1970, Edson passava junto com Yoshitame Fujimore pela Praça Santa Rita de Cássia, em São Paulo, quando foram reconhecidos por uma patrulha do DOI/CODI-SP que passou a persegui-los. A patrulha metralhou o carro, ferindo Edson e Fujimore. Edson, mesmo ferido, tentou correr, sendo alcançado pelos policiais e assassinado cruelmente. Um dos agentes segurou-lhe um dos braços e outro policial, segurando o outro braço, pisou violentamente na sua garganta, matando-o. Fujimore foi assassinado com um tiro na cabeça.

Foi sepultado como indigente no Cemitério de Vila Formosa com o nome de Celso Silva Alves. A solicitação do exame necroscópico foi feita pelo Delegado Alcides Cintra Bueno Filho e assinaram o laudo os médicos legistas Harry Shibata e Armando Canger Rodrigues.

No Arquivo do DOPS/RJ, há documento do CENIMAR de n° 0364, de 27 de maio de 1971 que fala das mortes de Edson Neves Quaresma e Yoshitame Fujimore em tiroteio, no Bairro Bosque da Saúde (SP). Há, neste documento, relatório de um informante de nome Francisco Eugênio Santiago, datado de 21 de dezembro de 1970, de n° 1369, que cita os nomes falsos de Edson e Yoshitame e acrescenta: “Cinco terroristas presos foram levados ao Instituto Médico Legal para reconhecimento dos dois terroristas mortos. Os cinco foram unânimes em reconhecer Yoshitame Fujimore no cadáver de ‘Akira Kojima’; mas não souberam dizer quem era o mulato ‘Celso Silva Alves’ que o acompanhava e com ele morreu trocando tiros com a polícia. O mulato foi enterrado com nome falso.” Entretanto, o documento do CENIMAR afirma que Celso foi identificado por exame datiloscópico como Edson Neves Quaresma.

O Relatório do Ministério da Marinha diz que “foi morto ao reagir à prisão, na Praça Santa Rita de Cássia/SP, com outro companheiro no dia 5/12/70 às 12 horas... O fato foi divulgado com seu nome falso, Celso Silva Alves”.


Yoshitame Fujimore

Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)

Nasceu em 19 de maio de 1944, em Mirandópolis (SP), filho de Tadakazu Fujimore e Harue Fujimore. Técnico em Eletrônica.

Foi assassinado no dia 5 de dezembro de 1970, na Praça Santa Rita de Cássia, em São Paulo, juntamente com Edson Neves Quaresma. A solicitação da necrópsia foi feita pelo Delegado Alcides Cintra Bueno Filho e o laudo assinado pelos médicos legistas Harry Shibata e Armando Canger Rodrigues, que confirmam ter sido morto em tiroteio. Foi enterrado no Cemitério de Vila Formosa (SP) como indigente, pois o corpo não foi entregue à família, apesar de constarem seus dados completos de identificação na certidão de óbito.


MEMÓRIA POLÍTICA

Assassinato de Pe. Henrique investigado

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) deu, em 18 de junho passado, o primeiro passo na tentativa de reabrir as investigações sobre a morte do padre Antônio Henrique Pereira da Silva, assassinado há 40 anos. A promotora de Justiça Patrícia Torres, assessora do procurador-geral de Justiça, Paulo Varejão, e integrante da central de inquéritos do MPPE, tomou o depoimento do policial civil aposentado Raimundo Ferreira da Silva, 72 anos, responsável pelas investigações da morte do padre em 1969. Ela reconheceu que não surgiram fatos novos para justificar a reabertura do caso, mas adiantou que vai tomar outros depoimentos. O próximo será o da irmã do padre, Izaíra Pereira Padovan, em julho. “Vamos continuar tomando os depoimentos. Ao final, avaliamos se temos elementos para justificar a reabertura”, afirmou a promotora.

 A análise para reabertura do caso foi solicitada por Paulo Varejão no final de maio, com a passagem dos 40 anos da morte do padre. Varejão disse ontem que o objetivo seria dar “uma satisfação moral” à sociedade de quem foram os responsáveis pelo crime. “Não temos como punir alguém porque o crime está prescrito. O objetivo é dar respostas à população”, explicou.

Apesar de não acrescentar novidades, o depoimento do ex-policial Raimundo Ferreira foi rico em detalhes sobre fatos que se sucederam ao crime. Ele contou que sofrera uma tentativa de assassinato, escapando ileso. Que a Rural que transportou os algozes do padre fora abastecida, instantes antes do crime, na sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP), sugerindo que o crime teria ligação com agentes de repressão do Estado.

 Ele nominou seis suspeitos: um homem identificado como Rogério Matos, dois policiais civis chamados Henrique Pereira e Miranda, um militar, River Rocha, e um funcionário da SSP de nome Humberto. Os policiais seriam ligados ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Rogério chegou a ser preso em 1969, mas depois liberado. Segundo Raimundo, todos já teriam morrido. As investigações sobre a morte do padre foram arquivadas na década de 1970, sem apontar os responsáveis.

Publicado em 19.06.2009 no JC – Caderno de Política


SAUDADES

Sebastião Alves da Silveira – o nosso Silveirinha
04/03/1941 a 01/04/2008

Nasceu no interior de Santa Catarina e foi criado em Florianópolis. Era administrador de empresas e oficial reformado da Marinha. Atleta na mocidade, tinha personalidade tranquila e compreensiva sempre buscando o diálogo com a família. Certamente, daí o seu apelido de Silveirinha.

Foi casado com Carmem Lapoente durante 43 anos com quem teve dois filhos: Cláudio e Márcio. Esse último, o cadete Lapoente, morreu, aos 18 anos, em treinamento no Exército, na Academia Militar das Agulhas Negras, sob pressão dos exercícios físicos desumanos que foi obrigado a fazer, mesmo depois de ter passado mal. Até hoje, 18 anos depois, o processo não foi sentenciado. “Depois de tanta luta e espera o senhor Alves da Silveira nunca vai gozar da oportunidade de ver a justiça feita.” Trecho de comunicação, de 30/04/2009, pelos representantes da família do cadete Lapoente para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, onde comunicam a esta e ao Estado brasileiro o desejo de solução amistosa para o caso, até 31 de dezembro de 2009.

Em 1991, ao procurar o GTNM-RJ, em função das torturas a que seu filho foi submetido, Silveirinha e sua esposa se incorporaram ao Grupo do qual nunca mais saíram. Participou da Diretoria, primeiro como 2º tesoureiro e logo depois como 1º tesoureiro, até falecer. Cuidou dos bens da entidade como se fossem dele. Com a sua honestidade, integridade e responsabilidade nunca deixou o Grupo na mão, nos momentos mais difíceis. Conseguia solução para todos os problemas!

Silveirinha transformou a sua dor em luta e dedicou-se à busca da justiça e do respeito aos direitos humanos. Sua perda é irreparável. É um companheiro inesquecível.

Fernandes Pacheco

Camarada Pacheco ... ... Presente!

Vivemos em época que não nos é permitido dar a merecida homenagem a nossos combatentes caídos, e nem nos é permitido o luxo de lamentar e chorar nossos mortos, pois a luta é árdua, e como um combatente selvagem o capitalismo não espera enterrarmos os nossos mortos, a pauta da luta continua a mesma, e a nós, resta continuar a luta. Mas um dia, quando o inverno terminar, faremos as homenagens necessárias, lembraremos os feitos, cantaremos a vida.

Fernandes Alves Pacheco, ou simplesmente Pachecão, foi um importante dirigente do Partido Comunista Brasileiro, partido em que militou desde os anos 1970, ainda no período de ditadura. Pacheco teve sua militância, inicialmente, no movimento sindical dos bancários. Mas é com o processo de crise do socialismo do leste europeu e seus impactos no PCB que a figura do Pacheco começa a se destacar, sendo um dos reorganizadores do PCB pós-racha.

Pacheco, junto com outros destacados militantes do PCB (Dinarco Resi Filho, Raimundão, Edmundo e tantos outros) ganhou o interior do estado e do Brasil, correndo cidades em longas viagens para garantir o registro definitivo do PCB, buscando filiados e filiando tantos outros ao PCB. Desde então, Pacheco (ou muipacheco – como denunciava seu nada ortodoxo endereço de e-mail) sempre se caracterizou por ser um intransigente comunista, defensor do Partido e de sua política, como também uma figura humana que sempre estava brincando e feliz por estar no meio do partido que contribuiu para reorganizar. Mesmo com o registro definitivo julgado pelo TSE, Pacheco não pendurou as chuteiras, pelo contrário intensificou mais ainda sua militância. Pacheco se tornou um dirigente nacional do PCB, tarefa que cumpriu até o dia de sua morte.

Mesmo nos dias atuais, Pacheco se mostrava um incansável militante, viajando incontáveis vezes ao interior do estado e do país, prestando tanto assistência política como contribuindo em campanhas eleitorais. Pouco antes de sua morte, Pacheco participou de reuniões com o MST no Paraná, e viajou a Brasília.
Veio a falecer durante sua intervenção num ativo sindical da Unidade Classista, que ocorria na sede nacional do PCB, sede da qual ele foi um dos principais idealizadores e realizadores, no dia 18 de abril, quando, ao fazer sua intervenção, passou mal, desmaiou e faleceu momentos depois.

Uma vida dedicada a uma nobre causa. Ele viveu e morreu no Partido do qual ele, com toda sua simplicidade, foi um dos grandes construtores.

PACHECÃO... Presente!
Secretariado do PCB/RJ


Maria Augusta Carneiro, a GUTA

Filha de um engenheiro e uma dona de casa, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, a Guta, dizia brincando que nascera à beira da estrada, em 25 de fevereiro de 1947, em Montes Claros (MG). De família baiana, a convivência com a política já era forte desde a infância, pois a bisavó e o avô foram militantes de causas sociais.

O envolvimento de Guta com a militância política começou no secundário, quando veio com a família da Bahia para o Rio, no fim dos anos 50, e foi matriculada no Colégio Anglo-Brasileiro. Guta achava a rotina escolar uma chatice, como contou em entrevista ao Projeto Memória e Movimento Estudantil, em 2005. Os pais descobriram que ela não estava se esforçando nos estudos e a transferiram para o Santa Úrsula. No novo colégio, ela foi eleita para o grêmio. Passou a fazer parte da Juventude Estudantil Católica. Em 1964, com o golpe, Guta conta ter sido “mandada embora” pelas freiras, por ser considerada comunista. Foi enviada pelos pais aos Estados Unidos, onde ficou um ano. De volta, entrou para a Dissidência Comunista. Levou a militância para a Faculdade de Direito, da UFRJ, onde foi estudar e assumiu o posto de presidente do Centro Acadêmico. Acabou presa durante o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em 1968, em, Ibiúna (São Paulo).

Guta esteve duas vezes na cadeia. Sofreu torturas aos 22 anos e foi banida do país pela ditadura militar, com outras 14 pessoas, em 1969, em troca da libertação do embaixador americano Charles Elbrick. Algemada, ao lado, entre outros, do ex-ministro José Dirceu, de Vladimir Palmeira e Flávio Tavares. Passou pelo México e viveu dois anos em Cuba, onde fez treinamento militar – a idéia era retornar ao Brasil para continuar o combate. Não conseguiu e rumou para o exílio no Chile.

Guta voltou ao Brasil com a anistia, em 1979, e custou a arrumar emprego. Segundo ela, era vetada por causa do passado. Até que conseguiu ingressar na Vale do Rio Doce, por concurso, onde montou o trabalho de comunicação interna da empresa. Em fevereiro de 2003, assumiu o cargo de ouvidora geral da Petrobras. A atuação dela como guerrilheira na luta contra o regime militar está contada no livro “Exílio, entre raízes e radares”, de Denise Rollemberg.

Guta, 62 anos, sofreu um acidente de carro em 25 de abril último, em Búzios. Morreu em 15 de maio de 2009, de infecção sistêmica, no Hospital Copa DOr. A Petrobras divulgou nota lamentando a morte da ouvidora geral: “Maria Augusta transformou a Ouvidoria Geral numa importante ferramenta para a garantia da transparência, valorização dos princípios éticos e respeito aos direitos humanos e ao Pacto Global da ONU”.

Guta morava no Flamengo e deixou três filhos.


Marcos Jaimovich

Dirigente comunista, Marcos Jaimovich faleceu de parada cardiovascular, aos 88 anos, na cidade do Rio de Janeiro, no dia 19 de junho.

Marcos era muito fraterno, generoso e solidário, tendo também como característica assumir corajosamente suas posições políticas. Perda irreparável de quem ficou conhecido pela resistência ao golpe de 64. Foi um cidadão que soube bem cumprir a sua missão política. Deu grande contribuição para a arquitetura e para a atividade intelectual no Brasil, ao mesmo tempo da militância no PCB e PPS.

Na sua atividade profissional, sempre se constituiu uma espécie de braço direito do arquiteto Oscar Niemeyer.


Augusto Boal

Augusto Pinto Boal nasceu no Rio de Janeiro, em 16 de março de 1931 e morreu no dia 2 de maio último, aos 78 anos. Foi fundador do Teatro do Oprimido, diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, uma das grandes figuras do teatro contemporâneo internacional.

O dramaturgo é conhecido não só por sua participação no Teatro de Arena da cidade de São Paulo (1956 a 1970), mas, sobretudo por suas teses do Teatro do Oprimido, inspiradas nas propostas do educador Paulo Freire. A técnica e a prática revolucionárias adotadas por ele difundiram-se pelo mundo, notadamente nas três últimas décadas do século XX, sendo largamente empregadas não só por aqueles que entendem o teatro como instrumento de emancipação política, mas também nas áreas de educação, saúde mental e no sistema prisional.

Tem uma obra escrita expressiva, traduzida em mais de vinte línguas, e suas concepções são estudados nas principais escolas de teatro do mundo.
O Teatro do Oprimido tem centros de difusão nos Estados Unidos, na França e no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro, Santo André e Londrina. O Teatro do Oprimido nas palavras de Boal: “é o teatro no sentido mais arcaico do termo. Todos os seres humanos são atores – porque atuam – e espectadores – porque observam. Somos todos espectadores”.

Em 2008, Augusto Boal recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência do GTNM/RJ por ser um intransigente defensor dos direitos humanos.

Alfredo Cunha

Alfredo era filho de Walter Luna Cunha, militante do PCB em Santo Amaro e Waldelice Costa Cunha, dona de casa. Ele e os pais moravam em Periperí, subúrbio ferroviário de Salvador. No mês de março de 1969, suas vidas iriam mudar radicalmente.

Em 28 de fevereiro de 1969, a polícia invadiu a casa da família e levou Walter preso. Alfredo foi se esconder no sótão da casa de sua avó, na Ribeira. Waldelice foi presa e, dois dias depois, Alfredo foi localizado e preso na casa da sua avó. Os três prisioneiros foram inicialmente conduzidos para a sede da Polícia Federal onde foram barbaramente torturados para indicar o paradeiro do primo Roberto, integrante, do MR8. Alfredo e seu pai seriam liberados e novamente presos e torturados em ocasiões sucessivas.

Em 23/01/70, o pai de Alfredo foi condenado pela Justiça Militar à pena de 1 ano. Alfredo foi julgado e liberado por insuficiência de provas. Mas sua situação psicológica já estava irremediavelmente comprometida. Tentou retomar os estudos, sem êxito. Passou por vários empregos, sempre demitido por excesso de atestados médicos. Era frequentemente acometido de crises nervosas e, levado à emergência de hospitais, onde recebia doses cavalares de tranquilizantes. A morte dos pais potencializou ainda mais o seu estado de abandono e solidão.

Desde a Anistia, perambulou por instituições, denunciando o drama da sua família e buscando uma reparação financeira, ao que parece sem êxito. Ao Grupo Tortura Nunca Mais da Bahia, entregou um extenso depoimento, extremamente rico em detalhes da sua saga e da sua família. Depoimento cuja leitura nos reporta a um verdadeiro conto de terror. Entregou também uma declaração, assinada a termo, relacionando os nomes de dezesseis pessoas, entre elas o então coronel Luis Arthur de Carvalho, que teriam participado das torturas e sevícias a que foram submetidos.

Em dezembro de 2008, saiu a anistia de Alfredo. A sua decepção foi muito grande. A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça lhe concedeu a reparação de R$ 12 000,00, que ele queria devolver. Era do seu conhecimento o tratamento dado a outros requerimentos de ex-presos políticos, na mesma condição sua, com valores bem maiores. Esse episódio potencializou a sua revolta. Inicialmente, chegou a verbalizar que iria entrar com recurso na referida Comissão, mas não o fez.

Alfredo não resistiu ao drama das suas lembranças. Seu corpo foi encontrado sem vida em 2 de maio do corrente ano, um sábado, em um quartinho no Caminho de Areia, onde residia na sua solidão e falta de perspectivas. Até o início do mês de junho, o seu corpo permanecia no IML, à espera de algum familiar para reclamar o corpo e providenciar um enterro digno.


Elizabeth Chalupp Soares

Morreu há poucos dias, no Rio de Janeiro, aos 72 anos de idade, Elizabeth Chalupp Soares, viúva de Manoel Raimundo Soares, o sargento das "mãos amarradas". Como o casal não teve descendentes, uma filha de criação (Fátima) vai habilitar-se como sucessora. O óbito de Dona Betinha – como era chamada – sem ter recebido a reparação a que tinha direito, causou indignação e mais motivos para que o Estado brasileiro seja denunciado à Corte Interamericana de Direitos Humanos por violação do Pacto de San José da Costa Rica e por crime contra a humanidade.

No início de 1966, o sargento do Exército Manoel Raimundo Soares, participante do Movimento Legalista, que visava a restituir ao presidente João Goulart o mandato tomado pelos militares, passou a viver na clandestinidade. Em março daquele ano, Raimundo foi preso pela Polícia do Exército, em Porto Alegre e levado para o Dops, onde foi torturado por cerca de uma semana. Posteriormente foi transferido para a Ilha do Presídio, no Guaíba. No dia 13 de agosto de 1966, foi novamente levado para o Dops, agredido ao longo de vários dias e assassinado por afogamento. O corpo foi encontrado no dia 24 de agosto com as mãos amarradas. Soares tinha, então, 30 anos e Betinha 43.

"A vítima – com as mãos amarradas às costas – foi submetida a um banho ou caldo, por parte dos agentes do Dops, processo que consiste em arrancar do paciente a confissão, mergulhando-o na água até quase a asfixia. Ocorreu um 'acidente no trabalho', tendo os pés da vítima escapado da corda que a prendia à lancha e desaparecido nas profundezas das águas do rio Guaíba que, à época, estava cheio".

Das celas, o sargento Manoel escreveu muitas cartas à esposa, das quais somente quatro chegaram às mãos dela.


Ivo Sooma

Dr. Ivo Shizuo Sooma faleceu no dia 09 de junho último, aos 73 anos. Ivo era um grande advogado, um dos nomes mais importantes da história política de Umuaruna. Sua história e trajetória de vida têm muito em comum com a própria história da região e do Brasil. Colaborou com refugiados políticos exilados, e ele próprio esteve exilado em Cuba em 1969. Foi um grande amigo do MOLIPO e de seus militantes. Durante a ditadura muito os ajudou e depois também. Morreu lutando em defesa dos mais necessitados e atualmente se dedicava também às questões ambientais. Era incansável na busca dos desaparecidos políticos, principalmente de Arno Preis, seu conterrâneo.

Participava de todas as atividades em prol dos direitos humanos em Santa Catarina e sua perda deixou um grande vazio na região. Foi enterrado em Umuaruna e foi velado na sede da OAB da cidade, onde por seis vezes foi vice-presidente e quatro, presidente. Nessa cidade constituiu família e teve três filhos.