JORNAL DO GRUPO TORTURA NUNCA MAIS / RJ - ANO 23 - N° 68 - JULHO 2009 |
LITERATURA
A Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e o IEVE – Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado lançaram a segunda edição ampliada e atualizada do Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil 1964-1985, pela Imprensa Oficial do estado de São Paulo. Nesses tempos em que lutamos para afirmar as memórias da nossa História para além da História Oficial, é muito oportuna essa publicação que, como diz Aloysio Nunes Ferreira Filho: “A história de crueldade, heroísmo e sofrimento que essas páginas contêm ajudam-nos a reconstruir a metodologia comum aos regimes totalitários que, à semelhança do brasileiro, lançaram mão do terror para submeter seus povos.” São quase 800 páginas com 436 histórias de mortos e desaparecidos políticos, dos quais há muitas fotos recolhidas nos arquivos já disponíveis que mostram o horror a que foram submetidos. Mas, o Dossiê esclarece que ainda há muito o que pesquisar nos diferentes arquivos militares que até hoje não foram abertos ao povo brasileiro, na sua busca pela verdade e pela justiça. Fábio Konder Comparato, no prefácio dessa edição, nos diz: “Quanto aos que se foram, importa dizer que todos eles morreram no bom combate, pois deram suas vidas pela reumanização da nossa sociedade. O seu sacrifício extremo contribuiu, decisivamente, para pôr a nu o caráter ignominioso do regime militar. Nesse sentido, não devem ser inseridos no rol dos vencidos, mas dos vencedores.” Que este livro nos ajude na luta incansável pelos direitos humanos. O Arcebispo Arns dizia, na primeira edição: “Um livro, vários brados, uma certeza verdadeira. Nunca mais a escuridão e as trevas. Nunca mais ao medo e à ditadura. Nunca mais à exclusão e à tortura. Nunca mais à morte. Um sim à vida!
Editado pela Ciência Moderna, é de autoria de dois conhecidos historiadores Luiz Sérgio Dias e Rubem Santos Leão de Aquino, oriundos da famosa Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil – F.N.Fi da U.B –, tendo sido lançado no Rio, em maio último. Iniciando por Cabral, passa por D. João VI e a chegada da Corte ao Brasil (1500-1808) indo até o apogeu do Império (1870). A seguir acompanha o acaso do Império até o fim da República Velha (1930) e, por fim, caminha pela Revolução de 1930 até os tempos atuais. Os próprios autores explicam que “a partir da importância assumida pelas escolas de samba na História do Carnaval carioca, torna-se oportuna uma amplificação do leque de estudos a respeito dessas instituições. (...). O presente trabalho objetiva analisar essa produção cultural entendendo-a como expressão de visões singulares, não só da História brasileira como também do próprio cotidiano popular, suas alegrias, tristezas, esperanças e preocupações!” Para isto, os autores informam que o livro envolve duas linhas de abordagem: o samba-enredo e os movimentos sociais brasileiros, e o samba-enredo e os grandes personagens da História brasileira. Os autores Luiz Sérgio Dias é ex-preso político e carioca, tendo como Dissertação de Mestrado “Quem tem medo da Capoeira”, premiada, em 1996, no Concurso Monografia Carioca, tendo sido publicada pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, em 2001. República dos Fazendeiros Dos professores Rubin Aquino e Marcos Arzua, foi lançado no Rio de Janeiro, pela Editora E-Papers, este livro que merece a atenção de todos aqueles que se interessam pelo estudo da História do Brasil.
Por Frei Betto Diário de Fernando retrata o verdadeiro caráter do regime militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Não se conhece similar entre as obras publicadas sobre o período. Frei Betto, companheiro de cárcere do frade Fernando, resgatou as anotações, deu-lhes tratamento literário e as reuniu neste livro que se constitui num documento de inestimável valor histórico. Diário de Fernando traduz a saga de uma geração que não se dobrou à ditadura e a qual o Brasil deve, hoje, a sua redemocratização. Eis uma obra que enaltece a dignidade humana, a capacidade de resistência frente à opressão e a vivencia da fé cristã como nas antigas catacumbas do Império Romano. Foi lançado no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.
De autoria dos historiadores Edson de Castro Lisboa e Jorge Miguel Mayer, este livro foi editado pela Alberian Gráfica e Editora. Segundo seu prefaciador, o historiador e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) Ciro Flamarion S. Cardoso, “insere-se numa corrente legítima de história regional – e local – que nunca perde de vista totalidades e assuntos maiores. A base de uma fonte de grande riqueza, os autores exploram nessa perspectiva um incidente da luta dos escravos contra a escravidão ocorrido em 1850, em área da então Vila Nova Friburgo: uma fuga que, devido a certas circunstâncias, desembocou em atividades que o sistema judiciário local da época enquadrou como ‘crimes’, punindo-as severamente. Na conclusão de seu texto, os autores apontam para a continuidade histórica existente na violência sistemática exercida até os nossos dias contra os negros pobres”. O livro foi lançado em São Pedro da Serra, pequena cidade de Nova Friburgo, onde mora um de seus autores, Jorge Miguel, em 16 de maio último. Na oportunidade, na Livraria Eco-Arte, deu-se um interessante debate sobre o tema do trabalho: a escravidão em Nova Friburgo no Século XIX. É como os próprios autores afirmam: “sem desmerecer a atuação dos colonos suíços e alemães é importante compreender que, desde as origens, a escravidão esteve presente e influiu diretamente sobre a riqueza e as instituições locais”. Não por acaso, os autores abrem este livro com uma citação de Jacques Le Goff que diz: “A memória onde cresce a História que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”. Os autores Jorge Miguel Mayer é oriundo da famosa Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil – F.N.Fi da U.B – como o é também o prefaciador, professor Ciro Flamarion S. Cardoso – e pesquisador da História de Nova Friburgo. Organizador e co-autor de “Teia Serrana – formação histórica de Nova Friburgo” e coordenador de “Festa de São Pedro”. Vozes Silenciadas “O livro de Papito de Oliveira, Vozes Silenciadas, não traz, naturalmente, toda a história da instalação do nazi-nipo-fascismo no Ceará, mas, sem dúvida, é retrato sem retoque da hediondez e da truculência militar-imperialista de que foi vítima a militância democrática, mormente os comunistas deste Estado, nos chamados “anos de chumbo”. “Vozes Silenciadas é um precioso trabalho de resgate histórico através da fala, com textos escritos a partir de depoimentos de ex-presos políticos que aqui tecem suas biografias e batalhas, com as respectivas motivações e consequências.” “Ao me deparar com relatos tão comoventes, percebi que estava diante de importante fase da história do Ceará que pouca gente conhecia... contendo depoimentos de mais de cem pessoas vítimas das atrocidades da ditadura militar no Ceará, cujo primeiro volume agora entrego ao público.”
De autoria de Ana Lucia Siaines de Castro, o livro é uma adaptação de sua tese de mestrado, e trava uma discussão sobre o museu na sua concepção básica: a polarização entre o sagrado e o segredo. Propõe-se a debater a questão para que o museu venha a se movimentar enquanto troca e referência social, política e cultural. Pela Editora Ravan e pela Faperj. A autora Ao obter o prêmio auxílio à editoração, da FAPERJ, publicou, em 2007, pela Editora Revan: Memórias Clandestinas e sua Museificação. Novamente premiada, lança seu novo livro, pela mesma editora, no qual se debruça sobre o funcionamento e os mecanismos sacralizadores do museu.
MÚSICA
Rio Araguaia Rio Araguaia faz parte de uma parceria surgida há mais de 20 anos; é o encontro entre poesia e música, de Toninho Camargos e Ricardo Farias (Cadinho), ambos mineiros de Belo Horizonte, que ao homenagear os que tombaram e lutaram na Guerrilha do Araguaia, selaram um sucesso que perpassa as montanhas das Minas Gerais. A canção foi gravada pela primeira vez em 1983 por Titane e Cadinho Farias e volta a ser destaque no show do CD “Encontros” de Toninho Camargos, gravado ao vivo no Teatro de Nova Lima, região metropolitana de Belo Horizonte, no final do ano passado. O CD tem uma composição de alguns artistas remanescentes do Mambembe, como Cadinho Faria e Titane, e outros mais jovens, admiradores da obra do compositor, como o Grupo Amaranto. Amigos e parceiros como Celso Adolfo, Hudson Brasil, Ladston do Nascimento, Lígia Jacques, Lira Amaral e Romeu Cosenza também participaram da construção desta obra. Rio Araguaia Brotará o teu sorriso Ficará tua certeza E esse dia, quando o dia? O teu sonho, lindo sonho No Araguaia passa um rio Vozes: Cadinho Faria e Titane Os autores
POESIA Sem Anestesias Dor. Dói tudo Dói ver as portas e as janelas cerradas Dói o câncer, a sífilis Dói a fome, a sede Dói a estupidez de mais uma guerra Doem todas as nossas misérias históricas Doem na pele as mentiras que engolimos A dor é profunda e às vezes dá vontade de parar E se a dor for ainda mais pungente e mordaz E como as águas da chuva que caem no chão Pode até doer as tristezas, mas sempre haverá alegrias Poesia escrita para a qualificação da dissertação "Não dá pé. Não tem pé nem cabeça. Não tem ninguém que mereça. Não tem coração que esqueça": a "chacina do PAN" e a produção de vidas descartáveis na cidade do Rio de Janeiro. Autor: José Rodrigues de Alvarenga Filho, psicólogo, mestrando em Psicologia
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