LITERATURA
20 Anos da Medalha Chico Mendes de
Resistência:
memórias e lutas
Do Grupo Tortura Nunca Mais, Editora Abaquar – no prelo
A América Latina e, em especial, o Brasil passam hoje por um processo de lutas para que outras memórias – divergentes e diferentes da memória oficial que nos vem sendo imposta – possam emergir e se afirmar.
O livro 20 Anos da Medalha Chico Mendes de Resistência: memórias e lutas, que está no prelo, é uma mostra desse processo de disputa histórica.
Ao criar em 1989 esta homenagem a todos aqueles que vêm se destacando nos mais diferentes e múltiplos combates de resistência, o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ não imaginava a dimensão que esta Medalha tomaria.
De um modo geral, ao longo desses 20 anos, a Medalha Chico Mendes tem homenageado as mais diferentes pessoas, entidades e povos. Não somente conhecidos juristas, religiosos, jornalistas, intelectuais e artistas vinculados às lutas pelos direitos humanos, mas também os anônimos que cotidianamente estão nesses embates, muitos ameaçados de morte. Não somente brasileiros como também latino-americanos e algumas entidades europeias. Isto os leitores verão no decorrer do livro onde os homenageados são pessoas que se destacaram nas mais diversas lutas sociais, tanto no campo, quanto nas cidades, tanto no passado quanto no presente.
A tarefa que se impôs foi hercúlea: recontactar 219 homenageados, familiares e/ou seus representantes ao longo desses últimos 20 anos. Isto se fazia necessário, pois não queríamos simplesmente publicar as biografias que foram lidas nesses eventos – estas se encontram integralmente em nosso site. Queríamos, também, além de contextualizar historicamente esses últimos 20 anos, solicitar aos homenageados, a seus familiares ou representantes, indicação de pessoas próximas a eles que pudessem atualizar essas biografias, enfatizando aspectos mais pessoais e afetivos.
Foi muito difícil! Em especial para alguns familiares de mortos e desaparecidos políticos que não se sentiam em condições emocionais de escrever algo sobre seus entes queridos. Em alguns casos, o Professor Rubim Aquino – que compôs nossa equipe – tomou para si esta tarefa.
Além deste professor – formou-se uma linda, comovente e competente rede de parcerias solidárias. Somente com tal apoio este livro pode ser terminado, pois tínhamos um exíguo prazo de tempo e muitas tarefas a serem feitas. Este livro teve o apoio financeiro da Comissão Europeia para a Democracia e Direitos Humanos.
Clínica e Política 2 – Subjetividade,
Direitos Humanos
e Invenção de Práticas
Clínicas
Do Grupo Tortura Nunca Mais, Editora Abaquar
Já saiu do prelo e será lançado ao público brevemente o livro Clínica e Política 2 – Subjetividade, Direitos Humanos e Invenção de Práticas Clínicas, uma publicação do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro associado à Editora Abaquar e com o apoio financeiro parcial da Comissão Européia – Iniciativa Européia para a Democracia e Direitos Humanos.
Da mesma forma que o Clínica e Política 1 – Subjetividade e Violação dos Direitos Humanos, lançado em dezembro de 2002, reúne artigos de membros da Equipe Clínico-Grupal do GTNM-RJ e de atuais, antigos e novos companheiros e parceiros da clínica transdisciplinar da maneira como a pensamos, ou seja, como prática ampliada e em oposição a um saber que se pretenda universal e ordenado.
Com o objetivo de tornar visível como os efeitos da violência do Estado repercutem em uma série de gerações, os artigos do livro vão revelando memória, cartografando paisagens, girando caleidoscópios, desmontando e remontando imagens, inventando palavras, reinventando sentidos, dando voz a personagens outrora calados e desvelando cenários antes invisibilizados.
Na primeira parte, recusando-se a sucumbir ao esquecimento, a memória traz à cena utopias ativas e é convocada ao uso diário; na segunda, a clínica apresenta-se como transdisciplinar e ampliada, desnaturalizando territórios, invadindo-os e permitindo ser invadida; na terceira, entre a marca da pantera e a pantera cor-de-rosa, utilizando o livre pensar, os profissionais psi devem decifrar o enigma de sua formação para não serem devorados por uma psiquiatria repressora e organicista; na quarta, as vidas precarizadas e as mortes banalizadas no capitalismo contemporâneo, a legitimação da tortura como “mal menor” nas sociedades de controle, e a convocação à construção de uma ética militante!
Janne Calhau Mourão – organizadora
Do reformismo à luta armada: a trajetória
política de Mário Alves (1923-1970)
De Gustavo Falcón, Editora Edufba e Versal Editores
Fruto do trabalho de pesquisa de Gustavo para sua tese de doutorado em História, este livro é mais uma peça irremovível do processo de reconstrução da memória de brasileiros extraordinários que deram suas vidas pela liberdade do nosso povo. Faz justiça à memória de Mario Alves, membro do Partido Comunista Brasileiro por longas décadas e fundador, na segunda metade dos anos 60, do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, junto com Jacob Goronder e Apolônio de Carvalho, dentre outras lideranças.
Gustavo Falcón é jornalista e sociólogo. Autor, entre outros, de Os Coronéis do Cacau; Os baianos que rugem – A Imprensa Alternativa na Bahia e Do reformismo à luta armada: a trajetória política de Mário Alves.
Direitos Humanos no Brasil
De Marco Mondaini, pela Unesco e Editora Contexto
Fazendo dupla com o livro Direitos Humanos do mesmo autor, este traz 33 documentos para explicar o histórico do desenvolvimento e das conquistas dos direitos humanos no Brasil. Aborda desde a expansão dos direitos sociais da década de 1930 até o ano de 1964, passa pela luta pelos direitos civis e políticos no período militar e chega até a universalização dos direitos e a conquista da democracia. Além disso, traz textos de grandes pensadores e idealizadores do cenário sóciopolítico nacional contemporâneo, como Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes, Leonardo Boff, Betinho, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
1968 Ditadura Abaixo
De Teresa Urban, Editora Arte & Letra
A idéia desse livro surgiu da necessidade de contar um pouco da história do movimento estudantil de Curitiba em 1968. O livro inclui uma história em quadrinhos, aliada a pesquisa em jornais e revistas da época e também conta os fatos marcantes que antecederam e sucederam a militância estudantil brasileira. Retrata as prisões dos estudantes, os exílios, o Ato Institucional nº 5.
Para Teresa, o pós 68 foi determinante para sermos o que somos hoje e por isso o livro mostra a tortura, a arbitrariedade, as mortes a lista dos desaparecidos e os fatos que vieram em seguida. Segundo ela: ”Esta não é apenas uma história pessoal, é uma história contada com liberdade, um mix entre o vivido e o aprendido. O Brasil ainda não discutiu todos esses acontecimentos claramente.”
A sua viabilização só foi possível por conta de uma “ação entre amigos” de antigos companheiros de 68.
O Fim dos Direitos Humanos
De Costas Douzinas, professor de Direito do Instituto de Humanidades do Berbick College na Universidade de Londres, Trad. de Luiza Araújo, Coleção Dike, 2009.
Esta obra constitui-se como uma inteligente crítica à retórica dos direitos humanos que parece ter triunfado, a qual é adotada pela esquerda ou pela direita, pelo Norte ou pelo Sul, pelo Estado ou pelo púlpito, pelo ministro ou pelo rebelde. Essa é a característica que torna os direitos humanos a ideologia dominante após o fim das ideologias. O autor, um severo defensor da tradição humanista, propõe-se a examinar os principais elementos formadores do conceito de direitos humanos, como o de ser humano, de sujeito e pessoa, de liberdade, de direito, com o propósito de demonstrar que os direitos humanos só têm paradoxos a oferecer. Um livro sistemático, para a mente crítica ou o coração fogoso.
As Lutas por Verdade e Justiça na Argentina
Contemporânea: uma cartografia
Em 25 de março de 2009 foi defendida brilhantemente a tese da Profª Telma Lilia Mariasch, As Lutas por Verdade e Justiça na Argentina Contemporânea, na UFRJ – Escola de Serviço Social. Seu orientador, o Prof. José Maria Gómez é merecedor de elogios por sua competência na orientação. A tese teve uma defesa brilhante e foi aprovada com louvor pela Banca. Em linhas gerais, destaca através da análise de sua dupla estratégia: social e jurídica, o papel das resistências na consolidação do processo democrático na Argentina e a liberdade atravessando a política.
É a mensagem que passa pelas vicissitudes e as dores dessas lutas reivindicando direitos e produzindo nossos direitos.
TEATRO
O Canto da Feiticeira Cotovia
Pouca gente viu o espetáculo “O Canto da Feiticeira Cotovia”, inspirado na peça “Comunicação – O auto da Feiticeira Cotovia” escrito pela poeta portuguesa Natália Correia, pesquisado num intenso e belo trabalho por Eliane França e Bruno Bessa. As músicas de Márcio Meirelles são excelentes.
A peça retrata a tirania e a ignorância dos homens recriando um universo que trata desde os arbítrios dos Inquisidores Medievais – a Moral, o Clero e as Forças Armadas que têm poder de mando e desmando. Não permanece apenas na Inquisição Medieval transportando-se para a contemporaneidade brasileira. Tenta reafirmar o papel da arte como lugar de luta do homem por sua liberdade e plenitude. O não calar diante das instituições castradoras de nossos direitos políticos e básicos como pensar, refletir, usufruir, criar e reclamar. Recria um universo dos tempos arbitrários da Idade Média, porém não fica apenas em Portugal/Brasil, mas insere a Mãe África, origem de toda a humanidade. Mostra a vilania dos que querem manter o homem na mais pura mediocridade que até hoje impera.
A frase dita pela feiticeira Cotovia poderá ser por nós exclamada com força e exaltação nos tempos atuais: “Meu corpo em chamas será o rastilho de uma fogueira que consumirá a Lusitania ano após ano, geração após geração, numa combustão invisível e prolongada pela palavra.” Nós complementaríamos que ainda continuamos lutando pelo nosso sonho.
Peça apresentada em maio último no CEDIM – Conselho Estadual dos Direitos da Mulher do Rio de Janeiro.
Determinadas Pessoas
Intenso e profícuo o trabalho de Esther Góes e Ariel Borghi sobre Helene Weigel. Quem foi ela?
Depoimento de Esther Góes: “Atriz, mulher obstinada que nos anos 20 do século passado pretendeu mudar o mundo, inclusive o das mulheres. Junto com Bertold Brecht revolucionou o Berliner e era de fato a grande atriz, criadora inesquecível da 'Mãe Coragem'. Encontrei em solo alemão expressionista, mulheres desafiando a burguesia e os ideais que produziram a I Guerra. As mulheres recusavam-se a ser formatadas pelo gosto burguês (...) em direção à autonomia... Hoje posso avaliar melhor a condição de uma mulher (...) mãe, atriz (...). Helene, no seu papel imprescindível na construção do teatro épico e no suporte firme dado ao Berliner (...). Penso no nosso tempo olho as favelas do Rio e São Paulo com um sentimento de frustação diante da vitória da desigualdade (...) corrupção (...) violência. Helene não pode ser esquecida é uma referência inesgotável".
Parabenizamos a atriz, seu filho Ariel Borghi, ator e diretor, por essa belíssima pesquisa transformando-a numa maravilhosa peça. Podemos comparar a mulher e atriz Esther Góes com Helene Weigel, pela sua coragem, questionando o “status quo”, não admitindo o consenso e não abrindo mão de suas convicções, mostrando que o texto é uma possibilidade de discutir a nossa história, o nosso tempo, a nossa vida. Ela demonstra que tudo o que nos move é a paixão por aquilo que fazemos.
Peça apresentada no Teatro Ginástico, no Rio de Janeiro em 2008. |