NOSSA AMÉRICA LATINA

Argentina

Chicha Mariani, fundadora das Avós da Praça de Maio, está muito velhinha. Quer ainda reencontrar sua neta. Vamos ajudá-la para que sua carta seja divulgada em todo o mundo, talvez consiga chegar até alguém que conheça a menina.

Esperamos que o seu chamado possa percorrer outros circuitos, não se restringindo somente a pessoas ligadas às organizações de direitos humanos, e que a mensagem chegue até Clara Anahí.

“Querida Neta:
Sou sua avó “Chicha” Chorobik de Mariani, lhe procuro desde o momento em que Etchecolatz, Camps e sua tropa mataram sua mãe e lhe sequestraram na Rua 30, nº 1.134 em La Plata, República Argentina. Era 24 de novembro de 1976 e você estava com 3 meses de idade. Desde então, junto com seu pai, lhe procuramos até o dia em que ele também foi assassinado.

Apesar de tentativas de nos convencer que estava morta, eu sabia que você estava viva. Hoje, você está com 31 anos e o número de seu documento de identidade é próximo do número 25.476.305 com que lhe registramos. Eu queria que você procurasse fotos de quando era bebê e as comparasse às que estão neste texto.

Quero contar-lhe que seu avô se dedicou à música e às artes plásticas; que seus avós maternos se dedicaram às ciências, que sua mamãe amava Literatura e seu papai era licenciado em Economia.
Ambos eram muito solidários e comprometidos com a luta social. Espero que você tenha inclinação semelhante, pois apesar de ter sido criada em um lar estranho, você tem os genes de seus antepassados. Seguramente existem muitas perguntas sem respostas que alentam o seu interior.

Estou com mais de 80 anos. Minha aspiração é lhe abraçar e reconhecer seu rosto; gostaria de lhe encontrar. Essa busca se concretizará num elo maior entre nós.
Clara Anahí, enquanto lhe espero, sigo lhe procurando.
Abraços, sua avó Chicha Mariani.”

Chile
Diversos acontecimentos têm envolvido os mapuche, povo indígena do Chile, ocorridos nos meses de verão, recrudescendo o tratamento discriminatório, por parte do Estado chileno, manifestando-se através de uma política de violação dos direitos fundamentais.

Durante os meses de janeiro e fevereiro se verificaram doze diligências aos povoados indígenas com a finalidade de registrar e retirar os habitantes das áreas que ocupam. As visitas foram dirigidas aos mapuche e pessoas não indígenas, vinculadas ao povo mapuche, em diversas partes do país.

Tais diligências foram oficializadas pelo Tribunal de Garantia, sem a presença de agentes públicos ligados ao Ministério Público, fato considerado grave e não obedeceu aos pactos nacionais e internacionais relativos aos direitos humanos.

O registro dos domicílios não se realizou respeitando as normas estabelecidas no Código Processual Penal, já que não permitiram a presença dos moradores durante a visita às casas e sítios.

O fato de maior gravidade de tais diligências foram realizadas por policiais com grande aparato de força desproporcional ao número de moradores, já que não houve resistência alguma. Os policiais estavam fortemente armados para o enfrentamento com os indígenas, o que não ocorreu.

A aplicação da lei antiterrorista nestes fatos constitui um evidente retrocesso na política criminal seguida pelo Ministério Público, corroborado pelo governo contra as pessoas mapuche imputadas de participar de conflitos territoriais.

Os fatos, descritos e ocorridos nos últimos tempos em relação aos mapuche e simpatizantes de sua causa, não coincidem com o discurso do Governo de Bachelet em relação aos povos indígenas, nem os compromissos internacionais estabelecidos pelo Estado para com estes povos e comunidades.

Paraguai
O ativista Martin Almada entregou ao presidente paraguaio, Fernando Lugo, documentos sobre afetados pela ditadura, achados recentemente em um sótão da antiga sede do Ministério do Interior, em Assunção.

Almada acompanhado do governador Victor Hugo, da região de Missões – sul do país, se reuniram com o Presidente da República no Palácio do Governo e apresentarem o dossiê com fichas policiais e fotografias de presos encontradas em 31 de outubro de 2008, na atual sede do Conselho de Governadores.

O ativista, ex-presos políticos e familiares de mortos/desaparecidos da ditadura do general Alfredo Stroessener, no período de 1954 a 1989, descobriram uma espécie de calabouço subterrâneo atrás de vários muros do sótão do antigo edifício. O lugar foi encontrado em agosto de 2008, graças à informação de um ex-agente da repressão, que esteve servindo neste centro clandestino de reclusão durante a década de 1970.

Almada, Prêmio Nobel Alternativo pela Paz em 2002 e Medalha Chico Mendes de Resistência/1999, já havia descoberto, em 1992, outro centro de tortura com milhares de documentos conhecido como os “Arquivos do Terror”. Tais documentos provam a existência da denominada “Operação Condor”, um acordo entre os regimes militares da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, que reprimia os opositores políticos, nas décadas de 1970 e 1980.

Presume-se que o centro clandestino de reclusão achado por Almada funcionava à época de Stroessener, quando o ministro do Interior era Sabino Augusto Montanaro, o qual se exilou em Honduras, fugindo do Paraguai ao final de ditadura.

Fontes oficiais disseram que Almada pediu a Lugo que agilize a entrega de Montanaro, trâmite já rechaçado pelas autoridades de Tegucigalpa, que não mantém acordo de extradição com o governo de Assunção.