PROJETO MEMÓRIA

No mês de março, quando as mulheres são homenageadas, o Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro publica as biografias de duas mulheres guerrilheiras, Ana Maria Nacinovic, assassinada brutalmente pelos militares e Dinalva Monteiro, desaparecida desde 1974 na Guerrilha do Araguaia.


ANA MARIA NACINOVIC CORRÊA
Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN).

Nasceu em 25 de março de 1947, no Rio de Janeiro, filha de Mário Henrique Nacinovic e Anadyr de Carvalho Nacinovic.

Estudou no Colégio São Paulo – de freiras – em Ipanema. Destacou-se durante o seu curso pelo companheirismo e cumprimento de suas obrigações escolares. Simultaneamente, estudava piano com o professor Guilherme Mignone. Possuindo um ouvido privilegiado, era estimulada pelo seu mestre a dedicar-se à arte. Terminou o científico com 17 anos e sua grande inclinação para a matemática levou-a a um curso pré-vestibular para Engenharia. Aos 21 anos, ingressou como 2ª colocada, na Faculdade de Belas Artes.

Ligou-se à Ação Libertadora Nacional (ALN), no Rio de Janeiro, mas foi deslocada para o comando regional de São Paulo, onde participou de várias ações armadas, entre 1971 e 1972.

No dia 14 de junho de 1972, almoçava no restaurante Varella, no bairro da Mooca/SP, com os companheiros Iuri Xavier Pereira, Marcos Nonato da Fonseca e Antonio Bicalho Lana, quando os quatro foram denunciados à polícia pelo dono do estabelecimento, Manoel Henrique de Oliveira, que os reconheceu através de cartazes distribuídos pela repressão. Rapidamente, os agentes do DOI-CODI montaram uma emboscada em torno do restaurante, mobilizando grande contingente policial.

De imediato, foram fuzilados Iúri e Marcos Nonato. Ana Maria, ainda vivia, quando um policial, ouvindo seus gritos de protesto e de dor, aproximou-se desferindo uma rajada de fuzil FAL, à queima-roupa, estraçalhando-lhe o corpo. Antonio Carlos conseguiu fugir ferido e relatou o ocorrido aos companheiros.

Ato contínuo, os policiais fizeram uma demonstração de selvageria para a população que se aglomerou em volta daquela horrenda cena. Dois ou três policiais agarravam o corpo de Ana Maria e o jogavam de um lado para o outro, às vezes lançando-o para o alto e deixando-o cair abruptamente no chão. Descobriram-lhe também o corpo ensanguentado, lançando impropérios e demonstrando o júbilo na covardia de tê-la abatido. Não satisfeitos, desfechavam-lhe ainda coronhadas com seus fuzis, como se, mesmo morta, Ana Maria representasse ainda algum perigo.

A população, revoltada com tamanha violência e selvageria, esboçou, dias depois, uma reação de protesto, tentando elaborar um abaixo-assinado que seria encaminhado ao Governador do Estado. Mas, devido ao clima de terror existente no país naquela época, somado ao pânico de que aquelas cenas de verdadeiro horror pudessem se repetir com outras pessoas, a iniciativa foi posta de lado. Também as ameaças feitas pelos policiais, na hora do crime, intimidaram os populares.


DINALVA OLIVEIRA TEIXEIRA
Militante do PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL (PC do B).

Nasceu em Argoin, município de Castro Alves, Estado da Bahia, em 16 de maio de 1945, filha de Viriato Augusto Oliveira e Elza Conceição Bastos.

Desaparecida desde 1973, na Guerrilha do Araguaia, aos 29 anos.
Estudou em Salvador, sendo formada em Geologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1968. Participou do movimento estudantil em Salvador nos anos 1967 e 1968, quando foi presa.

Conheceu Antônio Carlos Monteiro Teixeira, também desaparecido desde 1972, seu colega de turma, com quem se casou em 1969, em Salvador. No mesmo ano, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro e foi trabalhar no Ministério das Minas e Energia. Em maio de 1970, ambos viajaram para a região do Araguaia fixando-se em São Geraldo, próximo a Xambioá. Dina, como era conhecida na região, foi professora, parteira, e a única mulher da guerrilha a ocupar o cargo de vice-comandante do Destacamento C.

Destacou-se por sua habilidade militar, escapando várias vezes dos cercos do inimigo. Ex-guerrilheiros presos na época comentam que era temida pelos militares. Tornou-se uma figura lendária por ser exímia atiradora. A última vez que foi vista viva e em liberdade pelos seus companheiros foi no dia 25 de dezembro de 1973, desaparecendo após o tiroteio que houve no acampamento, onde estava gravemente enferma.

Em comentários de vários moradores da região, teria sido presa na Serra das Andorinhas. O ex-deputado federal e um dos comandantes das operações do Exército na região, Sebastião Curió, diz que ela foi a última guerrilheira morta após quatro meses de perseguição.

Depoimento do coronel da Aeronáutica Pedro Cabral, à revista “Veja” de 13 de outubro de 1993 e à Comissão de Representação Externa da Câmara Federal, faz referência a uma guerrilheira grávida que teria sido morta. Há também comentários de moradores da região que fazem referência à gravidez em estado adiantado de Dina.

O Relatório do Ministério da Marinha diz que ela teria sido morta em julho de 1974.

SAUDADES

PAULO SABOYA

A vida de Paulo Saboya nos ensina que sempre é possível lutar. Até o final de sua vida defendeu a bandeira da democracia e da ética na advocacia, deixando-nos uma lição que não se apagará. Membro do Partido Comunista Brasileiro, lutou desde os anos da Ditadura Militar em meio à ferocidade e à repressão aos direitos humanos. Como cidadão e advogado nunca se calou diante das injustiças. Sua trajetória permanecerá viva em nossa memória como exemplo de integridade humana. Seu nome está registrado na nossa história, entre os daqueles heróis eternos que dignificam a todos nós. Deixou-nos em 3 de fevereiro último.