Nascida em 1932, formou-se em medicina, em 1955, iniciando sua prática como psicanalista em 1965. Ex-membro didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro Rio II (SBPRJ), Helena fazia parte da Sociedade Internacional de História da Psiquiatria e da Psicanálise, do Conselho Editorial da Revista Gradiva e do Comitê Internacional dos Estados Gerais da Psicanálise que, em Paris, em julho de 2000, reuniu vários profissionais de saúde mental para pensar a prática psicanalítica. Nesse encontro, publicamente, pediu sua demissão da SBPRJ e da IPA (Associação Internacional de Psicanálise) pela cumplicidade que ambas demonstraram com o caso Amílcar Lobo.
Escreveu em co-autoria com Tereza Pinheiro As Bases do Amor Materno (Ed. Escuta, 1991), premiado pela Fundação Carlos Chagas e que retrata a vida da psicanalista Margarete Hilferding, primeira mulher a freqüentar os círculos das quartas-feiras na casa de Freud (1911).
Filha de imigrantes judeus-poloneses, Helena desde cedo participou de diversos movimentos, como: a campanha do Petróleo é Nosso, ainda adolescente, a luta contra o nazi-fascismo e, posteriormente, contra os arbítrios da ditadura militar implantada em 1964. Aos 16 anos, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, onde permaneceu até a Primavera de Praga, em 1968. Apesar de abandonar o PCB, Helena declarava que jamais abandonou seus ideais marxistas.
Em 1973, através da ex-presa política, Cecília Coimbra e do jornal do PCB Voz Operária (nº 102), tomou conhecimento da participação do médico Amílcar Lobo, candidato a psicanalista pela Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro RIO I (SPRJ) em equipe de tortura a presos políticos no quartel da Polícia do Exército (DOI-CODI/RJ), um dos mais terríveis centros da repressão política, nos anos 70, no Brasil. Helena enviou a notícia do jornal, acompanhada de nota manuscrita, nomeando também o analista-didata de Lobo, Leão Cabernite (então presidente da SPRJ), a várias entidades psicanalíticas do exterior, especialmente à direção da Associação Internacional de Psicanálise (IPA). Em lugar de buscar maiores esclarecimentos sobre a participação de Amílcar Lobo como assessor de tortura, a direção da SPRJ colocou perito do Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro para identificar a letra da nota enviada ao exterior que denunciava Lobo. Ao ser identificada, Helena foi perseguida, sofrendo uma série de ameaças e punições, como, por exemplo, não conseguindo ingressar no quadro de membro titular de sua sociedade, embora tivesse direito.
Apesar das denúncias feitas no exterior contra Amílcar Lobo como a da revista argentina Questionamos, a de René Major na imprensa francesa, a da Universidade de São Francisco e de vários psicanalistas espanhóis e canadenses o presidente da IPA, Serge Lobovici, aceitou a palavra de Leão Cabernite de que tais acusações a Lobo não passavam de interesses ocultos para denegrir a psicanálise no Brasil.
Em 1995, Helena publicou o livro Não Conte a Ninguém… (Ed. Imago) com farta documentação sobre o caso Lobo (julgado e cassado como médico pelo Conselho Federal de Medicina, em 1988). Em 1997, este livro foi lançado na França sob o título Politique de la Psychanalyse face à la Dictature et la Torture (Ed. LHarmattan) e na Argentina No se le Cuente a Nadie… (Ed. Polemus). Estas edições apresentam mais documentos que a brasileira e relatam acontecimentos posteriores como a formação do grupo Pró-Ética, composto por psicanalistas da SPRJ, devido à conivência assumida por suas diversas direções com relação ao caso Lobo-Cabernite.
Em 2000 Helena recebeu do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ a Medalha Chico Mendes de Resistência por sua incansável luta em prol dos direitos humanos. Desde da criação do GTNM/RJ, em 1985, esteve sempre muito próxima, acompanhando os eventos e participando eficazmente das denúncias.
Em 7 de abril de 2002 Helena nos deixou. Seu exemplo de luta e dignidade, de ética, de não abrir mão de princípios é o legado que deixa para todos nós.
Helena Besserman Vianna Presente!